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terça-feira, março 30, 2004

It Takes All Kinds 

Estou ma-ravilhado. Depois deste rapaz, foi esta esta menina e agora este senhor. Porque será que tantos dos meus bloggers favoritos gostam tanto da Aimee Mann? JR

O Speakers' Corner já não é o que era 

Em Agosto de 2002, eu e o João fizemos um inter-rail pela Europa Ocidental, que incluiu visitas maravilhosas a Paris, Brugges, Antuérpia, Amsterdão, Londres, Edimburgo, Dublin, etc. A estadia em Londres incluiu o inevitável passeio ao Speakers' Corner, junto ao Marble Arch. Desde há muito tempo que nesta área as pessoas se podem exprimir com total liberdade, incluindo insultos à família real britânica (tal como li na autobiografia do Professor Freitas do Amaral) ou ameaças à sociedade em geral. Esperávamos encontrar os velhos teóricos do marxismo, os anarquistas com cabelos compridos e sebosos, os excêntricos, os loucos. O que encontrámos foi bem diferente…
Além de um Jamaicano louco com um enorme sombrero na cabeça (que fez rir todos os que o rodeavam), e de um trintão que procurava desesperadamente demonstrar todas as teorias económicas do Leninismo para o seu único ouvinte, os debates a que assistimos eram quase todos protagonizados por muçulmanos. Uma turba rodeava dois homens possessos que faziam citações e contracitações a partir de livros e papéis. Juntei-me ao grupo, mas ninguém discutia em Inglês – provavelmente todos falavam em Árabe. A certa altura pergunto a um homem à minha direita: “What are they talking about?”, ao que ele respondeu polidamente “War and politics”, sem dizer mais nada. O homem à minha esquerda vira-se para mim e com um sorriso maldoso pergunta-me: “Don't you understand what they are saying?”, ao que eu respondi “No, they are talking too fast”. Não estava ali a fazer nada, pelo que me retirei. O João assistia a uma palestra de um indivíduo que elogiava o ditador do Zimbabwe, Robert Mugabe. Assistimos ao discurso, que decorreu tranquilo até que dois turistas Sul-africanos chegaram e entraram no debate. Foi um debate triste: os Sul-Africanos eram mais cultos, sabiam discursar melhor e conheciam perfeitamente as realidades dolorosas da vida na África Austral. O indivíduo pró-Mugabe nunca esteve sequer no Zimbabwe, pois nasceu no Gana e emigrou para o Reino Unido. Recordo-me de alguns excertos deliciosos, tais como:
Pró-Mugabe: “I want land! And I want it NOW! NOW!
Sul-africano: “What about Mugabe`s wife`s bank accounts in Europe? What about the lack of food due to the farm occupations?
O indivíduo pró-M estava esgotado e sem argumentos. Os seus comparsas também estavam furiosos. Para divergir atenções um deles teve a infeliz ideia de ameaçar o João com uma navalha! Nós ficámos horrorizados, pois durante todo o debate estivéramos em perfeito silêncio e sem nos manifestarmos. Afastámo-nos, enquanto o tipo da navalha desapareceu entre a multidão. Surgiria de novo uns minutos depois, insultando os Sul-Africanos, que não se deixaram intimidar, do alto dos seus 1,90 m de altura. O indivíduo da navalha foi agarrado pelos seus companheiros, que o impediram de levar ali uma sova merecida, e quando um “Bobby” (o típico e sereno polícia Londrino) se aproximou, todos dispersaram sem deixar rasto.
Os discursos terminavam. Um grupo de cinquenta muçulmanos reuniu-se na relva, para rezar. O som do ódio ainda ecoava nos meus ouvidos, enquanto muitas perguntas se acumulavam na minha mente.

Hoje de manhã, uma série de raides em Londres e no Sul de Inglaterra levou à prisão de vários suspeitos de actividades terroristas (um dos quais com apenas dezassete anos) e fez-se a apreensão de meia tonelada de nitrato de amónio num armazém clandestino. Este químico, usado como fertilizante, foi o combustível da bomba que Timothy McVeigh fez explodir junto ao edifício federal em Oklahoma, há vários anos atrás, demolindo toda a fachada daquele.
Numa curta declaração informou-se que todos os detidos são britânicos, afastou-se a hipótese dos indivíduos pertencerem ao IRA, e mencionou-se que a esmagadora maioria da comunidade muçulmana britânica é contra o terrorismo.

Por fim, visto eu não ter ainda todas as ideias em ordem, aproveito para seguir o preguiçoso exemplo de Saramago em relação ao seu novo livro, o “Ensaio sobre a lucidez”: “As questões que eu coloco estão aí. Agora cada um que procure as respostas.RM


[Foram duas semanas inesquecíveis e nem mesmo aquela triste tarde me fará pensar de outro modo. O Speakers' Corner, que até aqui há uns anos era um simpático e excêntrico recanto de Londres, está hoje transformado num autêntico centro de recrutamento da al-Quaeda e de grupos afins. Um local onde, sem exagero de espécie alguma, a integridade física de pacíficos cidadãos ocidentais corre risco. Espero nunca mais lá voltar, porque não quero voltar a ter, como tive por breves segundos nesse tarde, o puro terror de ter uma navalha apontada à minha face por um fanático. Foi exactamente assim que os infelizes passageiros dos avióes de Nova York e Washington foram vencidos e subjugados nos bancos dos aviões em que tranquilamente viajavam: com navalhas apontadas à face por indíviduos que desejam tanto a morte como nós amamos a vida. Nesse dia em Londres, após o sucedido, dei por mim a recordar aquela lindíssima tarde de Setembro de 2001, em que tinha visto em directo o segundo avião a colidir com a Torre Sul do WTC, seguido mais tarde por aquelas horripilantes derrocadas das duas torres. Naquela tarde de Agosto de 2002, no Speakers' Corner, não me restou outra escolha senão somar dois e dois e chegar a uma conclusão que, por muito incómoda que me seja, tenho para mim como verdadeira: há uma guerra a decorrer. E eu sei de que lado estou. JR]

segunda-feira, março 29, 2004

May You Have Strength 

Esta é para uma menina que hoje faz anos:

may you have strength
may you have hope
may you have love
the better end of the rope
the hope inside of the hope

may you trick time
may you bear dreams
may you find out
just where your gonna sleep
and whose gonna sing ya to sleep

we knew just what we were doin'
we weren't just along for the ride

but that don't take the pain away
once pearls scatter
some pearls we won't ever find

may you have strength
a messed up bed
a river of hands
where only you can swim
a sweet bitter love
a change that's gonna, gonna come

may you have a past
may you judge it as just
may you never break
may you roll in the dust
and still be able to trust

lost confetti strewn, in the culverts of the avenue
all is forgiven is true
don't even care yourself, don't care myself somehow

may you have strength
may you have hope
may you have love
the better end of the rope
the hope inside of the hope
the better end of the rope
the hope inside of the hope
may you have strength
the hope inside of the hope


[Chris Eckman, "May You Have Strength", do álbum A Janela, 2000]


Parabéns, Paula! JR

Dez anos de deserto (III) - Malditos Italianos 


Devíamos ter estado naquela final


Parece que foi há uma eternidade o tempo em que o Benfica ainda ia a finais e meias-finais da UEFA, espalhando pelos estádios e cidades dessa Europa fora o perfume da sua classe e do seu prestígio. Espalhando também – porque não dizê-lo? – o nome de Portugal e de uma maneira única de ser português a milhões de compatriotas que vivem e trabalham longe.

Pensando bem, até nem foi assim há tanto tempo quanto isso. Pelo menos eu posso dizer que foi no meu tempo. Faz esta noite exactamente dez anos que o Benfica recebia na Luz o Parma de Itália na primeira mão das meias-finais da Taça das Taças. E eu estava lá! Na catedral. O meu pai comprou duas bancadas laterais e lá fomos nós. Deixámos o carro junto à estrada da Luz e subimos, como subíamos sempre, pela Rua dos Soeiros em direcção ao Estádio. Lembro-me dos candongueiros cá fora a vender bilhetes a cem contos. Entrámos. A Luz completamente cheia. Uma daquelas noites europeias como eu nunca mais vi. Ficámos numa das laterais junto ao Topo Norte, junto à compacta claque do Parma, que me fascinou pelo seu berrante colorido azul-amarelo, pelas suas lindíssimas bandeiras gigantes, pela fanfarronice altiva dos seus condottieris e pelos seus incansáveis cânticos. Não há claques como as italianas. Passei quase todo o tempo antes de o jogo começar a olhar para eles. Antes de o jogo começar, 120.000 pessoas cantaram os parabéns ao Rui Costa, que nesse dia fazia anos. No final ganhámos por 2-1, com golos do Isaías e do próprio Rui Costa. Vibrei como nunca nesse jogo. Lembro-me de um senhor gorducho e bonacheirão, sentado ao meu lado, que ao intervalo me emprestou o seu cahecol, um daqueles cachecóis à antiga, com enormes listas encarnadas e brancas. No final do jogo, o meu pai lá me disse para o devolver ao senhor mas este, com o seu enorme sorriso bonacheirão, ofereceu-mo. Ainda hoje o tenho guardado.

Raros jogos na Luz (talvez nenhum, para dizer a verdade) me terão fascinado tanto como aquele, pelos craques adversários que eu nunca tinha visto. Na segunda parte, o Parma atacava para o nosso lado e pude então ver bem de perto Asprilla, Thomas Brolin, Sensini, ídolos que eu só conhecia das cadernetas de cromos. Os cantos do lado esquerdo eram todos marcados pelo Gianfranco Zola, a tão poucos metros de distância de mim. Enquanto escrevo estas linhas posso fechar os olhos e vê-lo na perfeição a chutar a bola. Acho que isso quer dizer qualquer coisa.

É curioso como me lembro do jogo mas não me lembro dos golos. Um momento, no entanto, ainda hoje tenho guardado na retina: o penalty que o Vítor Paneira falhou clamorosamente, estando nós a ganhar 2-1. Lembro-me perfeitamente de à saída do Estádio, e mais tarde a descer a Rua dos Soeiros, no meio da multidão, me fartar de ouvir: “Se o Paneira tivesse marcado…” Ainda hoje acredito que se ele tivesse mesmo marcado teríamos decidido a eliminatória logo ali e selado o passaporte para a final de Copenhaga, onde teríamos vencido o Arsenal. Mas nada disso aconteceu. O Paneira falhou e fomos ingloriamente eliminados em Itália, quinze dias depois. As equipas portuguesas são sempre batidas ingloriamente pelos italianos. Desgraçadamente, eles são exímios naquilo em que somos menos bons: disciplina táctica e finalização. De uma forma certeira e cruel, o Alexandre Borges do Desejo Casar resumiu bem essa ideia, numa frase a propósito da eliminação do Benfica pela Lazio em 2003: "gostei de ver uma equipa (...) utilizar as suas fisgas contra paredes de aço enquanto fingiam todos juntos e em silêncio que era esferovite.”. Doí muito mas é mesmo assim.

É com um misto de nostalgia e de alguma melancolia que recordo. Nostalgia pelos tempos de glória que já lá vão e pela imensa mole humana que encheu a Luz naquela noite. Habituada ainda a ver o clube ganhar, era composta toda ela por adeptos fervorosos e exigentes mas, tal como aquele senhor que me ofereceu o cachecol no final do jogo, generosos e olímpicos. Hoje, exaurida por dez anos de amarguras, e mesmo nas noites de enchente, é uma multidão nervosa e mesquinha, que ao fim de um quarto de hora já assobia os jogadores só por estarem empatados a zero. Tivesse hoje o Rui Costa vinte e um anos e seria assobiado também. E melancolia porque, ou muito me engano, ou nunca mais estaremos numa meia-final duma competição europeia. E de certeza que não voltarei a ter doze anos. JR

domingo, março 28, 2004

Real Good News (II) 



Caríssimo Filipe: dou-te toda a razão quando, ao referires-te à Gabriela "Cravo e Canela", dizes que "quem se comove com a frágil humanidade das personagens de "Magnolia" só pode ser boa pessoa." Falando por mim, há em Magnolia e Bachelor No. 2 (especialmente neste último) toda um universo e uma geleria de personagens com as quais me identifico por demais, para o bem e para o mal. E por Deus, a descoberta da vossa faceta manniana deixou-me derretido. De facto, quer o Mestre Thomas quer a Tia Aimee fizeram a minha sensibilidade aquilo que ela é hoje: profundamente manniana. Que faria eu sem vocês, amigos? JR

PS - Já agora, uma tirada á la JPC: alguem ainda ouve The Walkabouts? E Chris Eckman? E os Transmissionary Six? Dão-se alvíssaras.



sábado, março 27, 2004

Pétalas caídas (VII) 

No restaurante, o empregado não acerta uma. Esquece os pedidos. Erra as bebidas. Peço-lhe uma salada de tomate, traz-me uma de salada. Peço-lhe um bife com ovo. Só vem o bife. Ao fim de muitas tentativas, lá faz tudo certo, desfazendo-se em humildade e desculpas. Já vi cenas de incontinência verbal por causa de falhas como estas. Eu não consigo. Quando o erro é reparado com verdade, isso basta-me e mudo de página. A arrogância que mais detesto é a arrogância obtusa, a arrogância dos espertalhotes e dos ineptos. É o que mais há por aí. O mundo tem pouco espaço para os desajeitados. Os que se expõem, os que exprimem a sua indecisão e abatimento. O empregado teve um mau dia. Calhou-me a mim uma hora. Olhei para ele. Aquele suor não enganava. Era um ser dilacerado a tentar fugir do dia.

Pedro Lomba, in "Flor de Obsessão", 14 de Novembro de 2003


Uma mulher aborda-me na rua e pergunta-me se sou seu filho. Olho-a por uns segundos e sigo em frente. Já de costas, ouço-a repetir a pergunta. Continuo. Perplexo. Toda a cidade tem os seus loucos, os seus disturbados, os seus perdedores. Eu não quero fantasiar: a loucura é caso clínico e não traz glória. Mas o fracasso, amigos, o fracasso, a derrota humana têm um esplendor profundo e imaterial que eu admiro. Admiro intensamente os que fracassam, os que perdem. O fracasso é infinitamente preferível à vitória. Quem perde, ganha uma angústia metafísica, uma compaixão existencial. Merece respeito. E merece ainda mais respeito se perde de propósito, se é um perdedor nato e intencional. Os vencedores aborrecem-me, escandalizam-me, oprimem-me. Não exalam uma única vergonha, um único constrangimento, uma única incerteza. E são cinicamente inverosímeis no seu brilho estudado e elefantino. Meias da cor dos sapatos, sapatos da cor das calças, cuecas da cor da gravata. Uma voz segura, um perfil de estátua. Os vencedores sabem o que dizer, o que fazer, o que esperar. E permanecem sempre os mesmos, aconteça o que acontecer. Se tivesse coragem, digo-vos que fracassaria com afinco todos os dias. É muito mais saudável perder do que ganhar. Ganhar é um luxo, uma embriaguez fácil, uma descaracterização. Fracassar não é nada disso. Fracassar é muito mais difícil, muito mais exigente e muito mais conservador do que ganhar. É a única utopia conservadora em que eu acredito: a utopia do fracasso. Tenho há muito tempo esta certeza e não me peçam para explicar: o mundo será melhor no dia em que for universalmente feito de fracassados.

Pedro Lomba, in "Flor de Obsessão", 30 de Junho de 2003

sexta-feira, março 26, 2004

É só Fumaças 

Os nossos parabéns ao João Carvalho Fernandes pelo primeiro ano do Fumaças, um lugar que é já uma instituição da nossa blogosfera. Verdadeiro serviço público, um grafismo agradabilíssimo e num registo gentil e cavalheireisco, todos os dias com algo de novo e diferente. É para mim, leitura obrigatória, logo de manhãzinha. Muitos anos de vida! JR

A Ovibeja está cada vez melhor 

Partimos na quarta de manhã, às oito, para o Baixo Alentejo. Um grupo de amigos, amigas, conhecidas e conhecidos, que não incluiu o João devido aos seus compromissos inadiáveis na capital. O dia estava lindo e cheio de luz, embora com uma aragem fresca que obrigou a manter as camisolas vestidas. Entrámos no recinto e visitámos a exposição de bovinos, ovinos e caprinos. Após termos aumentado a nossa bagagem de conhecimentos, o grupo dispersou para almoçar. Telefonei ao meu primo, que estuda no Politécnico e assistia a uma conferência sobre maneio do porco Alentejano. Já não o via há mais de um mês! De facto, tendemos a esquecer a importância das feiras e exposições como centros de encontro e convívio social. Com uma bifana nas mãos estivemos à conversa durante duas horas, aproveitando para ver os outros pavilhões e exposições, incluindo uma surpreendente disposição de veículos militares. Os meios rurais, com a sua cultura de força e bravura, contribuem ainda hoje com uma grossa fatia dos efectivos militares portugueses.
Depois do almoço tivemos que partir. Foi pena, pois faltou um passeio pelo centro histórico da cidade e, claro, a diversão nocturna proporcionada pelos inúmeros bares que à noite se enchem com todo o tipo de pessoas, sobretudo os estudantes da cidade. Esta combinação da montra agrícola com a festa nocturna garantiu nos últimos anos que a Ovibeja está aí para durar, enquanto a feira nacional da agricultura em Santarém desperta cada vez menos entusiasmo. Para o ano estaremos de volta. RM

quinta-feira, março 25, 2004

Mais um Inverno que passou - Jardins Gulbenkian (II) 



Jardins Gulbenkian, 10 de Março de 2004

Go to Sleep (Radiohead, 2003) 

Something for the rag and bone man
"Over my dead body"
Something big is gonna happen
"Over my dead body"
Someone's son or someone's daughter
"Over my dead body"
This is how I end up getting sucked in
"Over my dead body"

I'm gonna go to sleep let this wash all over me

We don't wanna wake the monster
"Tiptoe round tie him down"
We don't want the loonies taking over
"Tiptoe round tie them down"

May pretty horses
Come to you
As you sleep
I'm gonna go to sleep
Let this wash
All over me.


Não me saiu da cabeça o dia todo. JR

Dez anos de deserto (II) 

Esta noite, por alguns minutos, julgei poder voltar a ter doze anos de novo. JR

quarta-feira, março 24, 2004

Fora do Mundo 

É uma surpresa total. E que surpresa! Pedro Lomba e Pedro Mexia de novo reunidos, desta vez com a companhia de Francisco José Viegas. Senhoras e senhores: o Fora do Mundo. JR

terça-feira, março 23, 2004

Jardins Gulbenkian 



Jardins Gulbenkian, 10 de Março de 2004

segunda-feira, março 22, 2004

Aviso cívico aos consumidores: 

De 21 de Março até 13 de Junho de 2004 TODAS as chamadas telefónicas entre telefones da rede fixa Portugal Telecom feitas ao domingo serão totalmente GRATUITAS, desde que a marcação do número do destinatário seja precedida pelo número 1070. Marca-se 1070, depois o número desejado da rede fixa e é aproveitar enquanto esta magnífica oferta durar!
Espalhem isto por família, amigos, conhecidos e pela net (messenger, sites, blogs, etc). Num país que se queixa de falta de cidadania temos o dever de espalhar esta preciosa informação entre todos os que ainda a desconhecem. RM





Ouvir quem interessa 

Na SIC Notícias, em entrevista a Maria João Avillez, vejo José Lamego, representante português na Autoridade Provisória do Iraque. Num momento em que a opinião pública europeia - e a portuguesa, para o caso - se encontra tolhida por um derrotismo mortificante e intoxicada pela verborreia de extremistas, é reconfortante ouvir a opinião avisada e serena de quem realmente se encontra no terreno e no centro da acção, longe da histeria e da mistificação mediáticas em que estamos mergulhados. Ninguém em Portugal tem, neste momento, um conhecimento tão profundo da situação no Iraque e dos problemas e desafios que aquela nação enfrenta. É - convém recordar isto - um conhecimento do terreno, da realidade e das dificuldades concretas da vida diária dos iraquianos. Conhecimento esse que conduz José Lamego a uma conclusão: a obrigação moral das democracias Ocidentais em auxiliar, na medida das suas possibilidades, à estabilização, reconstrução e democratização do Iraque. Lamego vai mais longe e toca no ponto essencial: um ano após a libertação do Iraque, a chave do sucesso consiste, não na insistência nas divergências de há um ano, mas na sua superação. A ocupação do Iraque podia ter sido conduzida de maneira diferente? É certo, mas após os atentados de Madrid, o Ocidente não tem outra alternativa senão investir em força na sua reconstrução e em unir-se para fazer frente ao terrorismo. Não há outro caminho. Uma derrota no Iraque não será apenas uma derrota dos Estados Unidos, mas sim de todos nós, por muito que isso nos custe a aceitar.

Mais tarde (começando logo após o fim da entrevista de José Lamego) tivemos o prof. Adriano Moreira no "Diga Lá Excelência", na RTP 2. Absolutamente deliciosa e refrescante a sua serenidade, a sua lucidez cristalina, o seu rigor analítico. Perante os jornalistas Nuno Pacheco e Graça Franco - sereníssima Graça Franco, culta, pertinente e bem preparada, que diferença para o registo sopeiro de Fátima Campos Ferreira -, Adriano Moreira lançou pistas e avisos: o futuro das relações transatlânticas, a Constituição Europeia, o alargamento, os serviços secretos, a imperiosa necessidade de Portugal se encontrar nos centros decisórios da União Europeia e de, por outro lado, investir no fortalecimento da CPLP e da sua relação com o Brasil. Ideias claras, rigorosas e serenas, temperadas por conceitos que o Professor não se cansa de repetir: prudência governativa, ponderação, razoabilidade. E a necessidade absoluta de cultivar e proteger os nossos frágeis valores ocidentais: as nossas liberdades e as nossas democracias. A sua defesa é tudo o que está em jogo. Nada mais. Cinquenta anos de sacrifícios comuns não nos exigem outra coisa.

Nestes tempos difíceis, de demissão, de ruído e de relativismo totalitário, temos uma opção a fazer: a de parar por momentos para ouvir as luminosas e avisadas vozes destes senadores ou a de embarcar na berraria e no fanatismo do Bloco de Esquerda e demais compangnons de route. Eu já escolhi. JR

domingo, março 21, 2004

Domingo à tarde 

A Primavera é como a "retoma" do Luis Delgado: Está aí. Sente-se. Só não vê quem não quer. JR

sábado, março 20, 2004

Pétalas caídas (VI) 

Entro numa universidade pública e apanho uma campanha eleitoral para a associação de estudantes. Observo. Televisões, cartazes, camisolas, canetas, brindes sortidos - tudo é distribuído para caçar votos e mobilizar os «colegas». Vejo de relance as promessas, os slogans e as fotografias, muitas fotografias. Eu não sei como é que estes jovens arranjam dinheiro para pagar este estendal. Dizem-me que vem das juventudes partidárias. Tudo bem. O problema é outro. É que por mais interessante que seja brincar à democracia, a brincadeira custa dinheiro e não deixa de ser aquilo que é: um desperdício. Antes dos 35 anos, não devia ser permitido entrar em campanhas eleitorais. Até essa razoável idade, uma pessoa tem metade de uma vida para provar se se consegue safar sem a política. Só depois, e se nada correr bem, é que temos o Bloco Central à nossa disposição. Só depois devemos escolher a nossa bancada.

Pedro Lomba, in "Flor de Obsessão", 10 de Dezembro de 2003


Numa condição tristonhamente iniciática, dou aulas numa universidade pública. Os poucos anos em que já leccionei fizeram-me ver que existe, por vezes, entre os estudantes, um tipo de gratidão, uma forma de respeito pelos docentes que se esforçam e levam o ensino a sério. As universidades podem passar por grandes reformas e pelos mais inventivos projectos mas só teremos melhores universidades com docentes investidos de uma consciência de missão e serviço público. Podemos e devemos aprender a gastar melhor os recursos que temos mas, na essência, devemos encarar de uma vez por todas a necessidade de avaliar e responsabilizar os nossos professores universitários. Sem avaliação e responsabilidade, nunca haverá excelência, que é o que se espera de todo o ensino.

Pedro Lomba, in "Flor de Obsessão", 28 de Julho de 2003


sexta-feira, março 19, 2004

Dez anos de deserto 



Nessa noite jogámos de branco


São dez anos que apareceram de surpresa, sem eu esperar, como quem não quer a coisa. Uma data da qual há dias nem sequer me lembrava e da qual nunca pensei vir a lembrar-me. É uma sorte eu estar hoje a escrever este post, exactamente dez anos depois. Era uma manhã de Sábado e o meu pai levou-me ao Estádio da Luz para me fazer sócio do Benfica. Nessa terça-feira tínhamos jogado com o Bayer-Leverkussen a segunda mão dos quartos-de-final da Taça das Taças, na Alemanha. Épico. A meio da segunda parte já perdiámos por 2-0, com golos do Kirsten e do Bernd Schuster. Eu chorava. E no minuto seguinte o Abel Xavier reduz com um pontapé fenomenal. E no minuto seguinte o João Pinto empata de cabeça. Passávamos à frente na eliminatória. E o Kulkov faz o 3-2. Os malvados dos alemães passam outra vez para a frente do marcador em dois minutos com dois golos de rajada do Kirsten e do Hapal. Era o fim. Até que o Kulkov faz o empate a quatro minutos do fim. Quatro igual. Milagre, estávamos nas meias-finais! Eu berrava, gritava, chorava. Tinha doze anos. Raras vezes terei sido tão visceralmente do Benfica como nessa meia-hora final. Tinha doze anos e, ou muito me engano, nunca mais serei. Talvez tenha sido nessa noite que o meu pai finalmente se decidiu fazer sócio. Ainda não lhe perguntei se foi mesmo assim, mas também não me interessa saber.

Mas dizia eu: era um Sábado de manhã e nessa noite o Benfica jogava com o Paços de Ferreira (não vi o jogo mas vencemos por 2-1, com golos do João Pinto e do Isaías). Lembro-me de esperar com o meu pai no salão nobre e de olhar cá para baixo pelas enormes vidraças. Era um dia como hoje, um dia lindo de Primavera, e em volta do estádio já se via e sentia a romaria e o frisson dos dias de jogo. Eu tinha doze anos e consigo hoje lembrar-me. Aquela vertigem de passar a pertencer a algo maior do que nós, maior do que a vida. Nesse dia passei a ser o sócio nº 133388. Hoje tenho outro número, mas nunca me consigo lembrar dele, algo que - penso eu - fala por si. JR


quinta-feira, março 18, 2004

Há algo de novo no reino da Dinamarca 

Era um regresso que tardava, mas após cinco meses e muita saudade, tenho a minha amiga Paula de volta às lides da escrita bloguística. Após San Diego, Copenhaga é o novo ninho desta Alma de Pássaro. E é sempre muito bom ter um blog amigo de novo no activo. JR

Hail Hail 

O Roma Antiga está finalmente operacional. Trata-se de um blog exclusivamente dedicado à história e cultura romanas, sendo o Filipe Alves (autor do excelente Respublica) um dos seus co-autores. Muito naturalmente, é uma entrada directa para os nossos links. Saudações romanas (salve seja)! JR

quarta-feira, março 10, 2004

Clareza moral 

É o mais antigo ódio do mundo. Mais de meio século depois do Holocausto, no rescaldo do 11 de Setembro e da Segunda Guerra do Golfo, o antisemitismo ressurge em força no Ocidente. Nuno Gurreiro pergunta: porquê? E como muitos de nós, o Nuno não tem respostas, apenas perguntas, apenas uma tremenda perplexidade perante aquele que é o maior cancro da inteligenzia da Europa continental. E escreve um texto magnífico, colossal e corajoso. É um grande, grande texto: cultura histórica, rigor na argumentação, clareza moral. Está lá tudo. É um alívio enorme saber que há portugueses desta cepa. Um grande abraço, Nuno. JR

Pétalas caídas (V) 

Se alguma coisa me afastou desde cedo da esquerda foi, para usar uma conhecida expressão do Nelson Rodrigues, o prosaísmo dos «idiotas da objectividade». Os «idiotas da objectividade» não são forçosamente de esquerda. Muitos estão à direita e muitos são de direita. Todos têm uma pretensão de objectividade, uma crença demasiado pueril e confiante no valor cartesiano e auto-suficiente das suas convicções. Eu não tenho muita paciência para pessoas que encaram o mundo a partir de premissas improváveis. Elas querem ter razão e acham que têm. Eu não quero ter razão. Não quero ser fiel a nenhuma ideia, a nenhum catálogo, a nenhum sistema. Não quero compreender o mundo. Interessa-me o meu temperamento e a minha experiência. A experiência arrasa as nossas convicções mais profundas em segundos. Ter percebido isto fez de mim um céptico. Montaigne explicou isto muito bem. Devemos lê-lo.

Pedro Lomba, in "Flor de Obsessão", 20 de Novembro de 2003


Tenho visto os protestos maciços dos estudantes universitários. Não sei bem quem tem razão. Sei que um estudante que protesta é um paradoxo vivo. Afinal de contas, todo o país trabalha e se sacrifica para que os seus estudantes estudem. Os estudantes devem estudar, não protestar. Um estudante nunca devia protestar; devia agradecer. Ele só estuda porque nós, os que não estudamos, lhe damos essa possibilidade. Devia agradecer. Como disse, não sei se as propinas devem subir. Se o aumento reverter a meu favor, acharei bem. Se não reverter, espero que, ao menos, mantenha as casas de banho das universidades asseadas. Há um aspecto positivo no aumento das propinas. As universidades que frequento estão cheias de quadras, cartazes, convites à revolta, programas de reuniões. Parece que os estudantes voltaram a passar tempo nas universidades. A regra não costuma ser essa. Os estudantes faltam às aulas e não põem os pés nas universidades. Se, com o aumento das propinas, passaram a estar dentro, é sinal que as coisas estão bem. As propinas devem aumentar.

Pedro Lomba, in "Flor de Obsessão", 15 de Outubro de 2003

terça-feira, março 09, 2004

À atenção do Dr. Daniel Sampaio 

Jovem lisboeta, letrado e bem-cheiroso, benfiquista de nascimento e de clube, procura com urgência os serviços de psiquiatra juvenil com sólidos conhecimentos futebolísticos, após ter sido surpreendido por familiares a festejar na banda dos 100 dB um golo da equipa que mais detesta. Máxima discrição. JR

segunda-feira, março 08, 2004

Cold Mountain (III) 



Sabemos que um filme nos toca quando somos a última pessoa a sair da sala. Voltar ao mundo cá fora é o que custa mais. Para quem gosta de cinema, os créditos finais são o último refúgio de uma alma rendida. Quem não os vê é porque não gostou do filme. JR


O PP, a Espanha e os outros 

No próximo dia 14 os nuestros hermanos vão às urnas votar nas legislativas. As sondagens indicam uma vitória do PP, mas sem maioria absoluta. Ora isto é um problema para a estabilidade do país vizinho, dadas as dificuldades em estabelecer alianças com os partidos nacionalistas catalão (CiU-Convergência e União) e basco (PNV). Nessas comunidades autónomas tem-se verificado um crescimento dos sentimentos independentistas, o que entra em choque frontal com os projectos do PP, partido defensor do centralismo mas que em 1996 precisou dessas alianças para se manter no poder. De facto, em Portugal não temos uma ideia clara sobre os nacionalismos na Península Ibérica, e a nossa comunicação social tem dado sempre a imagem de uma Espanha unida, forte, e numa expansão imparável sobre o nosso país, com o objectivo de recriar o reino de Filipe II. Creio que essa ideia não é certa, e que o crescimento económico e o bem-estar social nas comunidades autónomas vai paradoxalmente favorecer os argumentos destas em prol da secessão de Espanha. Esta evolução preocupa o Rei (que no seu discurso de ano novo reafirmou a primazia da Constituição sobre as tentações independentistas) e irrita Aznar, que num discurso de comício eleitoral afirmou que caso o PP perca as eleições, “teremos uma coligação de pancarteros, zapateros, comunistas e independentistas. E isso seria o fim de tudo!” De tudo o quê? De toda a herança que Aznar legou ao seu país, após oito anos formidáveis que tão cedo o povo espanhol não esquecerá.
Por cá, dá-se mais atenção ao vestido que Letizia Ortiz vai usar no casamento com o príncipe Filipe, do que à impressionante complexidade política, económica e cultural da Espanha de hoje. Foi por isso que comprei o livro “Os Espanhóis e Portugal”, de José Freire Antunes. Em breve escreverei sobre esta interessante leitura. RM

PS - Na Grécia os conservadores venceram as eleições, após 20 anos de poder socialista. Vinte anos? Pois é, o mínimo que posso escrever é que algumas democracias são mais democráticas que outras. Os gregos bem podem responder-me que neste momento, quem está pendurado na cauda da Europa (e com medo de largá-la!) somos nós, e não eles.


Escreve o Crítico (excelente blog, verdadeiro serviço público, não deixem de dar uma espreitadela):

As rádios Luna e Voxx fecham portas, tal como as conhecemos, dia 7 de Março pelas 24h. Escrevo este post com conhecimento de causa. Sou autor de dois programas na Rádio Luna "À Volta da Luna": Segundas, Quartas e Sextas às 18h10m (este com repetição no Domingo às 15h10m) e Música em Portugal: Quintas às 21h10m com repetição aos Sábados às 13h ou pouco depois.
A Rádio foi comprada por Nobre Guedes, dirigente do PP, já proprietário de outras rádios que distribuem programação oriunda da Média Capital (proprietária da TVI).

Nem a Média Capital, nem Nobre Guedes nos prestaram qualquer informação sobre o assunto.
Terça feira foram ligados, nos nossos estúdios da rua Padre António Vieira em Lisboa, cabos vindos do andar de baixo que, ironia do destino, é também sede da Rádio Comercial, uma das estrela do grupo da Média Capital. Fomos informados que na altura da transferência de posse das rádios o sinal passaria a vir de baixo e entraria nas antenas que transmitem os nossos feixes para os emissores de onde são retransmitidos para as antenas dos ouvintes.

A conclusão parece óbvia, no dia da transferência as rádios passam a emitir sinal vindo do andar de baixo, como não se anunciou qualquer rádio nova do grupo Media Capital parece que teremos mais três antenas (duas em Lisboa e uma no Porto) a transmitir o mesmo produto que a Media Capital põe no ar diariamente nas suas frequências existentes.

Assim a Rádio Luna, rádio clássica, com música de Jazz, de cinema, música antiga, música clássica e do período romântico, música impressionista, música contemporânea e toda a música de qualidade em geral, programas culturais, notícias de exposições, teatro, cinema, eventos musicais e culturais, desaparece tal como surgiu: do nada regressando ao nada. O mesmo nada que parece condenar tudo o que enriquece espiritualmente em Portugal.
O mesmo acontecerá com a rádio mais alternativa e original que Portugal conheceu: a Voxx.

(...)

E assim morre um projecto, outros se seguirão, talvez a Média Capital ainda adopte uma estratégia de qualidade e de prestígio, pelo menos assim chegou a prometer, e mantenha uma frequência de rádio de alta qualidade a custo quase zero, podendo ter boas receitas de publicidade com qualidade, também, em vez de derreter o capital conquistado pela Rádio Luna, a que conheço melhor, passando a ter mais uma frequência inútil de lixo radiofónico para somar às frequências que já dispõe nesta zona do país, a Grande Lisboa, sem valor acrescentado e sem ter mais receitas de publicidade por estar apenas a saturar o mercado com mesmo produto repetido em muitas frequências diferentes, não podendo gerar por isso mais receitas. Aliás uma das razões da concentração da Média Capital reside na eliminação de concorrência, os 1.3% mínimo da VOXX em Portugal, são uma fatia muito grande do mercado se pensarmos que se situam apenas em Lisboa e Porto onde representam mais de 5%, uma audiência enorme em termos de rádio e gigantesca em termos de rádio independente, claro que serão volatilizados com uma estratégia de massificação de oferta de produto e acabarão por se repartir pelos diferentes operadores. Daí, também, a hesitação da Média Capital nestes meses todos de impasse depois do arranque do negócio, mas com centenas de milhares de contos investidos seria difícil desistir, sabendo até da conhecida capacidade negocial de Ricardo Casimiro, o anterior proprietário das frequências. A Média Capital compra para reduzir a concorrência e evitar que um projecto interessante caia nas mãos dos seus directos rivais. De qualquer modo a LUNA só é vendida porque a Alta Autoridade para a Comunicação Social não autorizou a separação das frequências das rádios, com o argumento legal que isso poderia favorecer a concentração! O que é engraçado é que este negócio parece, à primeira vista, péssimo para a empresa de Pais do Amaral e de Nobre Guedes, não o seria se conseguissem gerar mais receitas de publicidade, e isso significaria manter as especificidades das rádios coisa difícil para um grupo que produz artigos de consumo imediato em grande escala e não percebe como gerir o fenómeno alternativo ou erudito. O que parecia ser um fruto apetecível é apenas mais um facto a confirmar que os gestores portugueses são particularmente obtusos. Neste caso só Ricardo Casimiro sai a ganhar. De forma brilhante funda projectos inovadores, valoriza estes projectos e ao vendê-los estes tornam-se em elefantes brancos nas mãos dos compradores. Gostava de saber quantos anos necessitará a Media Capital para recuperar o investimento através de novas receitas publicitárias, ou de receitas que deixará de perder? 500 anos? Nunca menos de 100 anos, atendendo ao preço destas frequências.

Outra falácia: A Voxx e a Luna não estavam falidas, apenas não se investiu num departamento de marketing e publicidade porque o negócio estava decidido há demasiado tempo! Rádios sem custos e com um contrato promessa de compra e venda feito com anos de antecedência não podem estar falidas, apenas se evitou o despedimento anunciado de mais pessoas e investimentos completamente desnecessários. É uma falácia, saída da cabeça de gente imaginativa e sem conhecimento, dizer que as rádios estavam falidas.

Aos curiosos informo que estudos independentes nos permitiram saber que a Rádio Luna teria na região da Grande Lisboa cerca de 30000 ouvintes, ou seja, provavelmente mais do que a Antena 2 em todo o país. Ouvintes das classes A e B com elevado potencial de compra, com gastos culturais elevados e saturados das formas convencionais de rádio e televisão, procurando refúgio numa rádio como a LUNA. Parece-me um disparate, mesmo do ponto de vista empresarial, a destruição da Rádio Luna, uma vez que os custos reduzidos com a sua emissão seriam cobertos rapidamente com a publicidade seleccionada que poderia caber na Luna, sem destruir a matriz essencialmente musical e cultural da Rádio. Do ponto de vista cultural é mais um passo atrás, espero que o nome de Nobre Guedes não venha a ser associado no futuro a essa possibilidade, diz-se que a direita lida mal com a cultura, esperemos que prove o contrário com este dossier das Rádios Luna e Voxx.

Resta-me agradecer a quem me permitiu passar por esta experiência, agradeci na brevíssima entrevista que irá para o ar no Domingo pelas 23h e agradeço aqui: Ao Guilherme Statter, que dirigiu a Luna com empenho e muita carolice, que me deu apoio total e incondicional, mesmo quando eu fiz críticas muito severas ao meio musical português no meu programa Música em Portugal. Mas voltando a Guilherme Statter é um exemplo máximo de dedicação a este projecto e à causa da cultura, desinteressadamente, perdendo tempo e dinheiro. Como o Guilherme diz: "Rádio Luna a carolice de poucos ao serviço da cultura de muitos".

Posso agora com mais liberdade e sem risco de comprometer a Rádio com as minhas opiniões, continuar a criticar aqui, com vigor e verdade, aquilo que vou vendo de bem e de mal, em música e noutros assuntos.

Henrique Silveira


Também eu fico triste com o fim da Luna e da Voxx (especialmente desta última). Chateia-me especialmente o facto de, na Grande Lisboa, a escolha e a variedade radiofónicas, no que à música diz respeito, ter atingido o grau zero. Nada tenho a opôr à compra das frequências por parte do grupo Media Capital. Estamos numa economia de mercado, cada faz o que bem entender com o seu dinheirinho. Mas espero que as coisas não fiquem por aqui. Nenhuma outra rádio me dava o prazer de estar a ouvir música pela primeira vez. O prazer de descobrir coisas novas. Todos temos direito a esse prazer. JR

Duas boas razões para voltar a acordar cedo 

O regresso de Andreia Neves e Marta Atalaya às manhãs da RTP e SIC Notícias, respectivamente. JR

domingo, março 07, 2004

Rock'n'Roll High School 



De certeza que não vai ser o "filme do ano", mas não vou perder School of Rock, 108 minutos de avacalhanço total. E notem-me bem todo o rigor e a erudição daquele quadro... JR

Venha de lá mais uma! 

Rui Silva ganhou a prata nos 1500 m, em mais uma final dos mundiais de atletismo em pista coberta. Portugal ainda tem uma palavra a dar à élite do atletismo mundial. E no país da bola que é o nosso, é bom que os decisores políticos não se esqueçam de que há muitos atletas de diversos desportos que também prestigiam o bom nome de Portugal e reforçam o orgulho em ser Português. Portanto, venham de lá os merecidos apoios para estes lutadores e lutadoras a quem muito temos de agradecer. RM

sábado, março 06, 2004

Parabéns, Naide! 

Ontem à tarde escrevia ao computador quando de repente começo a ouvir uma das mais belas músicas do mundo: o nosso hino nacional. Voltei-me e deparei com a bandeira de Portugal elevando-se num estádio. No pódio, uma jovem atleta portuguesa, Naide Gomes, exibia uma magnífica medalha de ouro ao peito, um sorriso feliz nos lábios e muita emoção nos olhos. Vencera a exigente prova do pentatlo (60 m barreiras, salto em comprimento, salto em altura, lançamento do peso e 800 m), no campeonato do mundo de atletismo em pista coberta, na bela cidade de Budapeste. Dado o enorme desconcerto nacional, é bom ver que ainda há (e sei que sempre os haverá) portuguesas e portugueses com garra para vencer os melhores do mundo. Parabéns, Naide! E muito obrigado. RM

sexta-feira, março 05, 2004

Ainda a "Ficção Histórica" 

No que à reconstituição histórica diz respeito, dou toda a razão ao Ricardo e ao Filipe: a nossa História tem acontecimentos e vilões, heróis e vergonhas, nuances, guerras e equívocos em número mais do que suficente entreter gerações de argumentistas. Mas por muito que gostasse de ver episódios e personagens da Guerra da Restauração ou da tomada de Ormuz registados para a eternidade em filme, faço notar que tais filmes, mesmo que de co-produções entre vários países se tratem, são caríssimos. E aliás, do que realmente sinto falta no cinema português nem sequer é de reconstituições históricas, mas sim de cinema urbano moderno. Não temos um Almodóvar, um Alex de la Iglésia, um Félix Sabroso, como Espanha tem. Lembro-me que aquando da estreia d'Os Imortais (creio que foi por essa altura), o crítico de cinema Rui Pedro Tendinha ter dito que falta a Portugal um Hable con Ella ou um Fabuloso Destino de Amélie, um filme que definitivamente projecte o cinema português para lá das suas fronteiras. Um filme - e aqui utilizo palavras minhas - que acabe com a monocultura do Oliveira para francês ver. Tal como o Ricardo, também eu gostaria de ver um bom filme português todas as semanas mas, a bem da discussão, acho bem não deixarmos a mesma deslizar para a utopia. Não consta que estreie um grande filme italiano, francês ou espanhol todas as semanas. Sejamos realistas. Olhamos para os nossos vizinhos espanhóis e o que vemos? Um país com uma vibrante cultura urbana (algo que nos falta) e que exporta actores (Banderas, Penélope Cruz, Javier Bardém), filmes premiados e realizadores consagrados (relembrar os dois Óscares de Almodóvar). Atendendo à nossa dimensão relativa, bastar-me-ia que conseguíssemos um terço disso. Haja esperança que esse dia chegue. JR


Almodóvar Navtech 



E por falar em cinema espanhol, aquele anúncio televisivo do Peugeot 307 Navtech é um luxo. Almodóvar em estado puro. A inveja é mesmo uma coisa muito feia. JR

Pétalas caídas (IV) 

Os portugueses ficam absurdamente satisfeitos quando encontram um cidadão multado na estrada. É um contentamento mesquinho, vicioso. Nós não somos nada do que parecemos. Essa coisa do povo brando, generoso, familiar. Somos o contrário de tudo isso. Somos uma gente que deseja o próximo enterrado até às orelhas. Se o coitado foi retido pela polícia, é porque mereceu. Porque colocou a pata fora do sítio. Porque decidiu ser espertalhote. Nós prezamos a autoridade. Temos respeitinho. Só não queremos é que nos moam muito a cabeça. E nos deixem em paz com as nossas trafulhices. Os outros que sejam apanhados. Merecem-no. Nós não.

Pedro Lomba, in "Flor de Obsessão", 6 de Novembro de 2003


Janto com um grupo heterogéneo. Ao meu lado, o salazarista. À minha frente, a quarentona. O salazarista concede-me lições de História, de uma História que se passou apenas na cabeça dele. Fico a saber que os comunistas conduziram Humberto Delgado para a fronteira espanhola e que, ao contrário da minha opinião temerária, Kaulza de Arriaga não é um homem sinistro. Conversar com o salazarista tem o seu quê de lúdico. A conversa deixa de ser inteligível, uma troca válida de argumentos, e transforma-se num exercício oral de literatura fantástica. A conversa vai longa, passamos por João Franco, pelo colonialismo português, pelas «fissuras» deste regime. Até que, de repente, a quarentona exibe ao companheiro do lado a larga tatuagem que tem nas costas. O salazarista desperta, contorce-se, treme. Fico sozinho na minha oração política e o salazarista inicia o interrogatório. Não pensem que se trata de um interrogatório crítico e brutal. Não, o salazarista fica visivelmente interessado na quarentona. A quarentona tem a sua dose de imoralidade e o salazarista põe imediatamente de lado 48 anos de beatice, para rodear a quarentona de mesuras e do que os brasileiros chamam de cantada. A política é a primeira coisa a voar quando os elementos dão de si.

Pedro Lomba, in "Flor de Obsessão", 20 de Outubro de 2003

quinta-feira, março 04, 2004

A cidade dos horrores 

Nampula, a cidade mais importante do Norte de Moçambique, tem sido nos últimos tempos palco de crimes hediondos. Rapto de crianças, tráfico de órgãos, mutilações, assassinatos bárbaros: o sofrimento do povo Moçambicano não tem fim. Lembro-me de ouvir uma colega minha, que viveu lá nos anos oitenta, descrever o contraste entre a cidade cheia de refugiados de guerra, e os campos dos arredores, onde bandos de milicianos sem lei nem partido incendiavam aldeias inteiras.
Com a paz parecia próximo um futuro tranquilo: hoje Moçambique é um país democrático. Mas num país pobre, muito pobre, a liberdade é um bem que só é desfrutado a partir do momento em que se tem comida no prato e água (potável) no copo. O assassinato de duas freiras em tão pouco tempo, devido (suspeita-se) a retaliações de mafias e por confrontos de igreja, veio demonstrar que ninguém está a salvo. Portugal, como Estado políticamente correcto que é, assiste impávido e sereno a tudo, sem oferecer ajuda no combate aos grupos de criminosos e às condições de miséria que permitem a proliferação dos mesmos. Mas eu pergunto: será que as autoridades moçambicanas aceitariam a presença de agentes da Judiciária na sua pátria? Não me compete a mim dar a resposta. Limito-me a condenar todos os que baixam os braços ou criam entraves, enquanto um povo de bem é projectado para os abismos da mais abjecta inumanidade. RM

quarta-feira, março 03, 2004

Cold Mountain (II) 



Sabemos que há algo de errado connosco quando, no cinema, ouvimos alguém chorar na sala, sem que tenhamos vontade de chorar. Será que isso faz de mim um monstro insensível? Qual será o primeiro filme que me fará chorar no escuro? JR

Nós, os vencidos do catolicismo (II) 

Termino a leitura de Nós, os vencidos do catolicismo, de João Bénard da Costa. Compilação de três textos publicados a 1, 8 e 15 de Agosto de 1997, no jornal O Independente (por sugestão do então director da sua revista, Vasco Pulido Valente), este livro é um sincero e tocante testemunho de alguém que viveu por dentro os sonhos e fracassos dos católicos de esquerda, na oposição ao Estado Novo.

Nascido e educado no seio de uma família católica, e crescendo num meio privilegiado, Bénard da Costa cedo optou pela militância na Juventude Universitária Católica (JUC), que à época, e conjuntamente com a Mocidade Portuguesa, era uma das pouquíssimas organizações de militância permitidas à juventude. Na Universidade, e apesar do contacto com inúmeros colegas próximos do Partido Comunista, manteve-se afastado destes. A intervenção soviética em Budapeste, em 1956, afastaria de vez o jovem dos comunistas.

Corriam os anos 1950. Na JUC, e sob o olhar esperançado do Cónego António dos Reis Rodrigues, jovens como João Bénard da Costa, José Manuel Pinto Correia, Rogério Martins, Nuno Portas, João Salgueiro, Pedro Tamen, Nuno Teotónio Pereira, entre tantas outras mentes brilhantes, desenvolviam um espírito de igreja, de serviço e de missão único entre os jovens da sua geração. Devorava-se Eliot, Claudel, Le Courbusier, Graham Greene. Era uma geração que redescobria a Bíblia, os Evangelhos e a liturgia à luz de um profundo humanismo. Era a "geração agraciada".

No seio dos católicos progressistas, o descontentamento com a imobilidade do regime crescia. A revista O Tempo e o Modo, cujo primeiro número veria a luz do dia em Janeiro de 1963, era a expressão dessa oposição à "ordem estabelecida". Dirigida e financeiramente impulsionada por Alçada Baptista, tendo Bénard da Costa como redactor-chefe, Pedro Tamen como editor e Nuno de Bragança e Alberto Vaz da Silva como redactores principais, O Tempo e o Modo introduzia entre nós o personalismo cristão e outras teologias progressistas: Simone Weil ou Emmanuel Mounier (apenas para citar dois nomes entre muitos) eram traduzidos e divulgados. Também nessa revista escreviam poetas e escritores portugueses como Almeida Faria, Sophia de Mello Breyner, Ruy Belo, José Cardoso Pires ou Alexandre O’Neil. Paralelamente - e ao contrário de outras publicações católicas como o Encontro, por exemplo –, O Tempo e o Modo ia mais além, ao promover o "diálogo de crentes e não-crentes". Nomes como Mário Soares, Sottomayor Cardia, Jorge Sampaio ou Salgado Zenha eram assim convidados a dar o seu contributo.

E aqui esteve – na minha humilde opinião – o principal erro deste grupo. Apesar de muitos verem nesta revista o embrião de um partido democrata-cristão que, surgindo do interior do sistema poderia abrir as portas a uma reforma deste, Bénard da Costa e os seus companheiros recusaram sempre qualquer entendimento com os católicos mais conservadores ou, simplesmente, com os católicos até aí descomprometidos. Num país de fortes tradições católicas, poderiam ter ganho força, virando-se para as camadas populares, agrárias ou operárias. Podiam ter saído de Lisboa, espalhando paciente e diligentemente a mensagem pelo Portugal profundo. Nunca o fizeram. Assumindo-se claramente como "católicos de esquerda", preferiram aliar-se a grupos esquerdistas em vez de tentar influenciar mais discreta e pacientemente as élites salazaristas. Para eles, crentes e não-crentes deveriam caminhar lado a lado, nunca separados. Com o decorrer do tempo, seriam precisamente as fricções entre estes dois grupos que iriam levar a revista a uma grave crise interna, à sua queda nas mãos dos maoistas e, fianalmente, ao seu encerramento no dealbar dos anos 70. Mas a maior desilusão estava ainda para vir.

A visita do Papa Paulo VI a Portugal e a Fátima, em 1967, foi vista por muitos católicos - incluindo o próprio João Bénard da Costa - como um sinal de apoio, tímido mas claro, ao agonizante regime de Salazar. Como ele próprio escreve:

Se me perguntarem de quando eu dato a minha saída da Igreja, respondo que no dia 13 de Maio de 1967, o dia da visita de Paulo VI a Portugal, já lá vão 30 anos. Foi nesse dia que eu deixei de saber “donde a luz mana”. Se perdi ou não misticismo, isso é outra questão.

Ninguém me tira isto da cabeça: o que mais deve ter doído a estes jovens foi ter percebido que a Salazar, apenas a perservação do regime a qualquer custo interessava e que, para o regime, o amor de Jesus e o Sermão da Montanha eram apenas uma fachada.

Os sonhos de uma geração pareciam ter chegado ao fim. Apesar do relativo impacto que tinha tido o Manifesto dos 101, até 1974 apenas a Vigília da Capela do Rato (organizada nos finais de 1972 contra a Guerra do Ultramar) assumiria contornos de relevância. Um grande vazio ficou por preencher. No início dos anos 70, o único movimento de oposição ao regime efectivamente implantado no terreno era o Partido Comunista. A oposição democrática continuava órfã do "reviralhismo" republicano. O Partido Socialista era um grupo de amigos que se tinha reunido na Alemanha para beber uns copos e posar para o boneco. Sá Carneiro era um advogado no Porto. A democracia cristã não existia. Em Espanha, pelo contrário, as fortes correntes progressistas no seio da igreja permitiram a emergência de um sólido movimento da democracia cristã, o qual teve um papel fundamental na transição pacífica para a democracia. Olhando hoje em perspectiva para a loucura generalizada de 1974-75, notamos que as vozes de muitas das mais brilhantes personalidades desta geração de católicos progressistas não se fizeram ouvir quando mais eram precisas. E que falta essas vozes serenas e iluminadas fizeram… JR

terça-feira, março 02, 2004

Cold Mountain 



Cold Mountain é um belíssimo filme. Um filme que me reconcilia com o "épico" (algo que não tinha conseguido totalmente com Gangs Of New York). E um filme que tinha tudo para ser o rei dos Óscares neste ano da graça de 2004: um realizador consagrado do genre (Minghella), cenários naturais deslumbrantes (as montanhas da Roménia como exacta e sumptuosa recriação dos Apalaches), a evocação da Guerra Civil Americana, um elenco de luxo, um inteligente e conseguido argumento de autor e uma galeria de personagens profundamente humanas. Mas nada a fazer: este foi o ano d’O Senhor dos Anéis. O tempo fará – assim o espero – justiça a este filme, bem como ao seu sumptuoso naipe de actores: um Jude Law (se fosse bicha apaixonava-me por ele) em portentosa ascensão, Nicole Kidman em grande nível e uma Reneé Zellweger a fazer talvez o papel mais conseguido da sua carreira, até hoje. E um filme que se dá ao luxo de ter como personagens secundárias Philip Seymour Hoffman, Natalie Portman, Donald Sutherland ou Jack White (dos White Stripes) é, no fundo, isso mesmo: um luxo. JR

PS – Tenho que confessar: invejo a capacidade que o Ricardo tem para, ano após ano, ficar acordado até às quinhentas a ver a cerimónia dos Óscares. Não a tenho, hélas. E apesar de não ser um habitué dessas madrugadas, não me recordo de uma cerimónia tão previsível como a deste ano. As previsões que circulavam por aí acertaram quase todas (então este senhor só falhou no melhor actor). Fiquei feliz por Reneé Zellweger (já expliquei porquê) e, pessoalmente, torcia para que Mystic River e Lost in Translation fossem de alguma forma premiados. O Óscar de Melhor Actor para Sean Penn e o de Melhor Argumento Original para Lost in Translation são no fundo isso mesmo: merecidos prémios de consolação num ano em que só um filme foi Senhor.

PPS – Confirma-se: Tim Burton atingiu a maturidade. Big Fish é, também ele, um belíssimo filme. Uma família, um pai e um filho, o perdão como redenção, a vida, o amor e a morte. Está tudo lá. Façam a vocês próprios um grande favor e vão vê-lo (e ouvir o Tio Eddie Vedder, já agora).

Força, Itália! 

Chega de hipocrisia. Qual de nós nunca sonhou descer ao balneário da equipa dos nossos sonhos no intervalo, para dar a táctica e a vitória, nem que fosse uma só vez na vida? Somos todos treinadores de bancada. Somos todos treinadores frustrados. E com todo o direito a sê-lo. Até mesmo os primeiro-ministros. E ninguém me tira isto da cabeça: se não fosse lagarto, o Barroso devia ser presidente do Benfica. JR

segunda-feira, março 01, 2004

O Senhor dos Óscares 

Onze nomeações, onze vitórias: o terceiro filme da trilogia adaptada dos romances do genial Tolkien não deu hipótese à concorrência. Para o público em geral este era o filme do ano de 2003, pelo que foi excelente ver que a Academia também o reconheceu. Tolkien, onde quer que esteja, estará certamente satisfeito.
Mas houve muitos outros bons filmes no ano passado, e a nível pessoal foi o ano em que fui mais vezes ao cinema. Infelizmente, as intelectualidades lusas ainda não compreenderam que enquanto os filmes portugueses não forem populares e lucrativos, a sétima arte nacional permanecerá com os seus vícios parasitários dos dinheiros públicos. "Os Imortais" são um dos poucos bons exemplos a seguir - os lucros chegarão um dia. E eu adoraria poder todos os domingos assistir a um bom filme português, em língua portuguesa. Perdi a fé na Velha Guarda, mas espero que as novas gerações sigam um caminho melhor e mais glorioso. O cinema pode e deve ser uma das mais importantes expressões da cultura portuguesa. RM

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