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quarta-feira, junho 30, 2004

A Velha Aliança 



Euro 2004, Portugal-Inglaterra, 20 de Junho de 2004, Estádio da Luz, Lisboa (fotografia de JR)

segunda-feira, junho 28, 2004

Mais sublime que nunca 

Notável entrevista de Agustina Bessa-Luís no programa "Diga lá Excelência". A classe das respostas reflecte bem 81 anos de experiência de vida, mais de 60 como escritora de elite, e uma obra que inclui mais de 50 livros publicados. Trata-se de uma mulher que não teme a morte, que não tem problemas em afirmar que gosta de ler Stephen King e não gosta de ler Saramago (por acaso eu gosto das obras do nosso Nobel insular), e que consegue proporcionar uma entrevista de grande qualidade e interesse. Não resisto a citar a sua resposta quando questionada sobre a possibilidade inquietante de daqui a cinquenta anos ninguém a ler:
- Não [me inquieta], absolutamente nada. Espero nessa altura não me impressionar com isso. RM

sexta-feira, junho 25, 2004

Mãos nuas, coração de leão 



Sobre o jogo já tudo foi dito, e aquilo que eu vivi não posso, por enquanto, descrever por palavras. Em breve porei aqui as minhas fotos. Mas eu estava na terceira fila, por trás da baliza do outro lado do campo e por isso, só hoje de manhã fiquei a saber que o Ricardo tinha defendido os penalties sem luvas, de mãos nuas. E foi Álvaro Braga Júnior quem disse, hoje de manhã, o que tinha de ser dito. Que a nobreza, a coragem, o romantismo e (sim) a loucura do seu gesto, em directo para todo o Mundo, nos devolveu o futebol mais simples e mais puro. O dos meninos que o jogam nas ruas, nos pátios e nos baldios das nossas cidades. E nas nossas praias. E que defendem penalties com as mãos nuas. Sem luvas. É lindo. JR




Elogio a um desalinhado 

Se alguém me perguntasse quais os blogs que mais me marcaram e influenciaram até hoje pela sua escrita, pelo seu registo, pelo seu ethos, escolheria sem hesitar, e por ordem ordem decrescente, cinco: A Coluna Infame, o Dicionário do Diabo, o Flor de Obsessão, o A Praia e o Respublica. Destes, infelizmente, apenas os dois últimos continuam activos. Um deles, o Respublica, do Filipe Alves celebra hoje um ano de existência. E um ano é muito tempo, num meio tão volátil como a blogosfera. Manter um blog de qualidade exige gosto pela escrita e pela comunicação bem como - e o que é mais importante - regularidade, disciplina, gosto, cabecinha no lugar. E o Filipe tem superado com brilhantismo os mínimos olímpicos. É certo que em termos ideológicos estou muito próximo do Filipe, mas o que mais me atrai no seu blog vai muito para além disso. Desde Novembro passado, quando descobri o Respublica, que fiquei fã. Fã da sua apaixonada evocação da Roma Antiga, do Mundo Romano e da História, da serenidade da sua escrita, da elegância do seu template, da polidez gentil do seu registo. E sobretudo (sobretudo, meu Deus!) daquela recusa em em seguir a actualidade, daquela deliciosa pitada de independência e de "obliviousness" que lhe confere um inconfundível e delicioso ethos aristocrático. Os nossos parabéns, Filipe! E que contes muitos. Avé! JR

Panem et circensis 

Todos sabemos que não vai ser este Campeonato Europeu a relançar decisivamente a economia portuguesa, por forma a sairmos de uma fase difícil e prolongada. Todos sabemos que não são as vitórias da Selecção que vão substituir-nos no nosso trabalho, na nossa produtividade, nos nossos deveres. Todos sabemos que Fado, Fátima e Futebol serão sempre trunfos populares dos quais os nossos dirigentes políticos nunca abdicarão.
No entanto, isso não são razões que impeçam todo um povo de vibrar, alegrar-se, unir-se em torno da equipa das quinas (com "q" e não com "k") neste Europeu. Satisfez-me sobretudo ver a forma orgulhosa com que a nossa bandeira é exibida por toda a parte (embora a minha bandeira preferida seja a de D. João I, pela sua beleza superior e pelos grandes triunfos nacionais - Aljubarrota, Ceuta - que ela representa). Desde a independência de Timor que não se via o país tão unido. Estas emoções e vivências estão a fazer-nos muito bem. Quanto à temida futebolização do país, acredito que isso depende exclusivamente da forma como cada um conduz a sua vida: a celebração de arromba ontem à noite (até à meia-noite e meia, no meu caso) não me impediu hoje de acordar à hora habitual nem de trabalhar com o rendimento a que estou habituado. Posso assim concluir que o pão e o circo fazem muito bem, desde que as pessoas ultrapassem o seu estado de euforia, convertendo-o num estado de responsabilidade, produtividade e sobretudo muito dinamismo. O dinamismo que só as grandes virtórias conseguem dar a um povo. Venham de lá mais vitórias, que nós cá estamos todos para apoiar a nossa Selecção! RM

quinta-feira, junho 24, 2004

Tão querida como aparvalhada (II) 

Acertaste em cheio, João. De facto, é quase só mudar os nomes. RM

quarta-feira, junho 23, 2004

Tão querida como aparvalhada 

(...) "Anabela, a Avenida de Roma é tão queque e classe média, não é? Aqui não há misturanças, pretos e brancos, pobres e ricos. Não senhora. Aqui, é tudo do mesmo. Contas que este é apenas um dos sítios onde tens passado, "se calhar vezes de mais". Falas dos cafés que se foram, Roma e Capri e nem recordámos o Tutti Mundo. Dos jardins que morreram e dos recém plantados, do ex-cinema Star, espaçoso, decadente e solitário como a Avenida Guerra Junqueiro no tempo em que não ardia a chama da olímpica Zara. O casal de pedra retirado do antigo Monumental repousa agora em frente da igreja de São João de Deus. Disseste "Olha os jacarandás!" e não te falei dos de Pretória que estão por todo o lado e a cidade é perfumada, sexual até dizer chega e amorosa porque as flores desenham, em cada minuto que passa, extraordinários tapetes no chão. (...)
Aqui vamos as duas por esta avenida sem perigos e contrariedades. Coisa sossegada, tranquila, rica, semi-rica. Avenida querida que muito me diz pelo preconceito que se vê, claramente visto, nas caras das mulheres e homens que passam por nós. Se fosse possível imaginar ou desenhar uma rua boa para pensar tanto como para não pensar noutra coisa que não seja aparência e futilidade, seria, sem dúvida esta magnífica pasmaceira com trânsito ao centro e comércio dos lados. A fabulosa, pretensiosa e provinciana Avenida de Roma. Tão querida como aparvalhada." (...)


[Excertos de um artigo da autoria de Camila Coelho sobre a jornalista da RTP Anabela Saint-Maurice, na revista DNa de 18 de Junho de 2004. Não sei porque os ponho aqui. Talvez porque esta ternurenta, desencantada e certeira caracterização da Avenida de Roma – que percorro todos os dias, a pé ou de autocarro – assenta como uma luva ao meu (ao nosso) próprio bairro. De facto, é quase só mudar os nomes. JR]

Summer in the city 

O Inferno é à meia-noite e meia ainda trabalhamos em frente ao portátil, a suar em bica, com o cabelo colado à testa e com a camisa aberta até ao terceiro botão. Mesmo com a janela aberta. JR

terça-feira, junho 22, 2004

Frases que a História não vai esquecer (II) 

"Um grande líder não é necessáriamente aquele que faz grandes coisas, mas sim aquele que consegue que o seu povo faça grandes coisas."

[Ronald Reagan] RM

segunda-feira, junho 21, 2004

Por outro lado, 



tenho uma certa simpatia pela Croácia e pela sua selecção (um dos meus poucos pecadilhos germanófilos, reconheço). E é por isso que me mordo todo por dentro sempre que alguém diz que "parecem o Boavista de vermelho!". A rematada saloice da frase não tem tanto a ver com questões semântico-cromáticas (sempre ouvi dizer "encarnado" cá em casa), mas antes com as referências de quem a profere. Amiguinhos, não é muito mais simpático compará-los ao foguetão do Tintin, na sua viagem lunar? Por mim não hesito. Entre Hergé e João Loureiro (apesar dos Ban) o meu coração não balança. JR


"Nobody likes us; we don`t care!" 

Este é o lema dos hooligans britânicos. O lema da GNR é "Pola lei e pola grei", ou seja, "Pela lei e pelo povo". Os energúmeros que se habituaram a espalhar o terror pelas cidades europeias deram de caras com uma força policial bem equipada e treinada, que tem conseguido impor a ordem no Algarve. Hoje, Gary Mann, o líder de recentes desacatos que foi preso e extraditado para Inglaterra onde vai cumprir pena, vem queixar-se dos métodos da GNR. Nós ficamos a rir dele e dos seus comparsas. The hooligans don`t like our GNR; we don`t care. RM

Frases que a História não vai esquecer (I) 



"A maior imoralidade que um Estado pode cometer é enviar os seus jovens combater e morrer numa guerra que esse mesmo Estado não está disposto a vencer."

"A única diferença entre um pequeno empresário e um grande empresário é que o pequeno empresário seria grande, caso o Estado não se intrometesse no seu caminho."

[Ronald Reagan] RM

domingo, junho 20, 2004

Disto é que o meu povo gosta! 

A selecção nacional venceu hoje a selecção espanhola numa partida decisiva em que os nossos jogadores foram superiores na determinação e vontade de vencer. Além do aplauso devido aos que estiveram no relvado, é de elogiar o apoio dado pelas portuguesas e portugueses de todo o mundo, que foi extraordinário! Nos anos recentes só me lembro de ver o país tão unido quando Timor-Leste se tornou independente da Indonésia. Patriotismo, alegria, orgulho, auto-estima, tudo isto faz bem ao povo Português. Agora, é preciso muita humildade e muita garra, por forma a que este sucesso se repita nos quartos de final. RM

sábado, junho 19, 2004

O melhor jogo até agora 

Foi o Holanda - República Checa, que terminou com 2-3, após um jogo emocionante em que a "Laranja Mecânica" esteve a ganhar por 2-0. A luta, a classe, a técnica, o público, tudo foi assombroso.
Um jogo feliz para os Checos. Espero (esperamos todos) que o dia de amanhã seja igualmente feliz para Portugal. RM

Bizâncio sem rei nem roque...mas com luz verde para aprovar a Constituição 

O processo de aprovação da Constituição Europeia vai por fim entrar na sua fase final. Agora, serão os parlamentos ou os referendos a decidir: sim ou não. Desagrada-me a aprovação parlamentar, pois trata-se de um assunto demasiado sério e que necessita de toda a legitimidade democrática possível. Por outro lado, há quem tema os referendos em que o "não" vença, pois isso poderia atrasar a coesão europeia. Eu discordo totalmente. O "não" obtido por sufrágio universal apenas indicaria que esta Constituição é desadequada aos interesses dos europeus, e logo caberia aos nossos políticos elaborar uma melhor. Ou então, eleger a nível europeu uma Assembleia Constituinte, que durante dois anos trabalharia nesse sentido, obtendo-se um documento de inegável legitimidade democrática. Esta segunda opção é a que prefiro.
Quanto à nomeação do próximo Presidente da Comissão Europeia, faz-me lembrar a corte do Império Bizantino: intrigas, segredinhos, conversas no corredor (quem sabe se até nas casas de banho, enquanto se muda a água às azeitonas?), conspirações...nada disto dignifica a nossa União Europeia, e acaba por fragilizar o próximo Presidente, pois para ser nomeado vai ter que agradar e submeter-se aos interesses de gregos e troianos, perdendo a autoridade de que tanto vai necessitar.
Longe vão os tempos em que o Presidente da Comissão se chamava Jacques Delors e o eixo Franco-Alemão tinha os respeitáveis Miterrand e Kohl. Tempos em que se trabalhava pela Coesão e pelo crescimento. Em relação à União, sou pessimista quando penso em Bruxelas, mas sou extremamente optimista quando penso nas potencialidades ilimitadas do nosso admirável continente. Vamos esperar para ver, sem deixar de participar, quer seja votando em todas as eleições, quer seja dando a nossa opinião sobre todo o processo de evolução política Europeia. RM

sexta-feira, junho 18, 2004

Isto sim, é um dia ganho 



Hoje, no Independente. Não percam! JR

quinta-feira, junho 17, 2004

Ganhar sabe sempre bem 

Num jogo repleto de emoções, a nossa selecção de futebol conseguiu vencer a selecção russa por 2 - 0. Milhões de corações portugueses sofreram até perto do fim, sobretudo os que se encontravam no estádio da Luz. Depois do jogo celebrámos a vitória num jantar animado. Exausto, deitei-me depois da meia-noite. Hoje acordei cedo como costume e trabalhei a manhã toda. É excelente conciliar os nossos sucessos com os sucessos da selecção. RM

quarta-feira, junho 16, 2004

Este espectáculo vale sempre a pena 

Mesmo que logo à noite o resultado seja diferente do que eu espero. Estou com fé na selecção. E mais: os momentos mais formidáveis da nossa História foram aqueles em que a única opção era vencer. Este jogo não se pode comparar à reconquista de Lisboa por D. Afonso Henriques, nem à batalha do Ameixial (1663), mas o espírito nacional só tem a beneficiar com uma excelente vitória frente aos Russos. Eu vou estar lá. Porque vale sempre a pena. A propósito, João, mais uma vez obrigado pelo bilhete. Não estava mesmo à espera. RM

terça-feira, junho 15, 2004

Angels in America (II) 



"Esta vida sabe a pouco" 

Disse o meu amigo Bruno antes de nos sentarmos a almoçar. A brilhante frase foi o ponto de partida para uma conversa que apenas terminaria duas horas depois. Hoje, passadas duas semanas, recordei-me da nossa conversa, e enquanto esperava que o semáforo ficasse verde, calculei o número de horas de vida que desperdicei no trânsito, este ano. Duzentas e setenta.
Está decidido: um dia hei-de viver numa pacata cidade de província, onde terei todo o tempo do mundo para ler os livros que comprarei em Lisboa e comentar os filmes que passarem nas salas alfacinhas. Évora, apenas a uma hora de auto-estrada da capital, pisca-me o olho todas as manhãs, enquanto inspiro o smog e coloco o rádio em altos berros, tentando disfarçar o rugido dos milhares de motores que me cercam. RM

domingo, junho 13, 2004

Melancolia democrática 

é vermos que, pela primeira vez, já não votamos na última mesa de voto. Isso sim, é melancolia democrática. E não me venham com a Ciência Política. JR

sexta-feira, junho 11, 2004

É sempre Verão em Florença 

Lembro-me de uma tarde de Agosto em Florença, num Verão passado, no início deste século. Lembro-me da gigantesca fila para entrar nas galerias dos Ufizzi e na sua magnífica colecção de pintura Renascentista Italiana. Esperei horas e horas, ora à torreira do Sol, ora sob a fresca sombra das arcadas setecentistas, mandadas erigir por Maria de Médicis. Sempre com aquele jovem casal de namorados Australianos à nossa frente. Ele um perfeito e fleumático "aussie", de cabelo curtinho cor de cenoura. Ela uma filipina magrinha e ternurenta. Ambos muitos franzinos, modestos e cansados, de mochila às costas, imensamente felizes. Lembro-me da multidão de turistas de todas as nacionalidades que por ali passava, babélica mas serena, em absoluto transe estético. Lembro-me também de a minha mãe me chamar discretamente a atenção para um senhor que passava por nós, atravessando as arcadas, acompanhado pela mulher, e que reconheci de imediato. Estava de calções e camisa de caqui, calçava botas de caminhante e um chapéu de Indiana Jones. Estava de óculos escuros e segurava um mapa (ou seria um guia? Não me lembro...) que seguia atentamente, olhando em volta de vez em quando. Olhando para as imponentes arcadas, para as orgulhosas frontarias, para o imenso azul do céu e das águas do Arno, sob as pontes. É a minha única recordação de Lino de Carvalho. JR

quinta-feira, junho 10, 2004

Diálogo 

- O que quer que lhe possa acontecer agora está nas mãos de Deus.
- O pior é isso mesmo. É não estar nas nossas mãos. JR

Nelly 



Não vou ao Super Bock Super Rock, com grande pena minha. Mas quem for, por favor, que lhe dê um beijinho por mim. Ela é uma gracinha. E as morenas de olhos cinzentos deixam-me doido. JR

R.W. 

"Levantei-me às oito. Às nove já estava a trabalhar. Tudo perfeito, tudo a correr-me bem. Até que ouvi uns garotos a brincar na rua, mas não havia trânsito, e então lembrei-me que era Sábado, que por isso é que estava aqui a trabalhar (...). E foi quando pensei: mas o que estão os miúdos a fazer na cidade, no primeiro dia quente de Verão? O que estou eu a fazer na cidade? Porque não estou a almoçar com alguém na praia? Porque estou em casa a escrever laudas eruditas que não vão ser lidas por mais de cinco pessoas? Comecei a sentir o desalento a avançar como um maremoto e, antes que me afundasse, voltei para o trabalho. Trabalhei toda a tarde... ninguém me telefonou. Está toda a gente na praia."

[Robert Wilson, O Último Acto em Lisboa, Gradiva, 1999 – tradução de Maria Douglas]

Em tardes como esta só livros destes nos entendem. JR

quarta-feira, junho 09, 2004

Angels in America 



Já é a segunda vez que revejo o episódio desta semana (o segundo) de Angels in America. Depois de Os Sopranos (Six Feet Under nunca me convenceu), a HBO brinda-nos de novo com uma grande, grande série. Um elenco de luxo (onde pontificam o magnífico Al Pacino, bem como Emma Thompson e Meryl Streep), a brilhante realização de Mike Nichols (aqueles cinco minutos finais do segundo episódio são de mestre), a evocação da América de 1985, o horror infinito da SIDA, o sofrimento, atmosferas sombrias, a solidão. E num momento em que a memória de Ronald Reagan (e dos politicamente gloriosos anos oitenta, como tão bem disse este senhor) é evocada um pouco por toda a parte, vale sempre a pena notar na imparável ascensão do Reaganismo como pano de fundo da série. Estou fã. JR

terça-feira, junho 08, 2004

A Torre de Arzila 



Graças à acção determinada da Fundação Calouste Gulbenkian, a torre de Arzila, um dos maiores símbolos da presença portuguesa no Norte de África, foi restaurada sob orientação dos arquitectos Alfredo Viana de Lima e João Campos.
O magnífico edifíco espelha o orgulho dos ilustres capitães que governaram a vila portuguesa desde de 1471 até 1550, e de 1577 até 1589. O rei D. Afonso V, paladino da Alta Nobreza, comandou a conquista sangrenta, em Agosto de 1471. Os aguerridos Nobres que chegavam vindos de Portugal estavam ali para fazer a guerra: durante os 71 anos seguintes a guerra foi quase permanente; mas não era a Nobreza que a pagava, era o povo com os seus impostos, e o Império Português do Oriente, com os seus lucros. Em 1508 a vila foi cercada e tomada; o Capitão Dom Vasco Coutinho, Conde de Borba resistiu na Torre e no castelo, onde se refugiaram os Portugueses. Nunca se renderam. Quando a frota de auxílio chegou, os Marroquinos fugiram. O filho de D. Vasco era Dom João Coutinho, o Conde do Redondo; foi o mais prestigiado capitão da vila (1514-1525 e de 1529-1538), que viveu nessa época os seus anos de glória militar. Ataques surpresa, emboscadas, razias, saques, cercos, correrias, almogaverias, tudo isto fez parte do dia-a-dia, numa espiral infernal de violência e devastação. Após a época do Conde do Redondo, já não havia dinheiro, nem soldados, nem mantimentos. Contra a vontade da Alta Nobreza, D. João III ordenou o abandono da vila em 1550. Seria recuperada por D. Sebastião, e mais tarde oferecida aos Marroquinos por D. Filipe II de Espanha.
Tenho que visitar Arzila. A Guerra do Norte de África (1415 - 1578) é um dos períodos mais fascinantes da nossa História. Tenho muito orgulho em todos os portugueses que ali fizeram história, e que ali tentaram cumprir o seu destino. O contributo generoso da Fundação Gulbenkian permitiu manter mais um pedaço da nossa memória. Os soldados que lutaram e morreram em Arzila certamente agradecem. E eu também. RM

sexta-feira, junho 04, 2004

Sympathy For The Devil 

Ainda não tinha escrito nada sobre o fim do Dicionário do Diabo. A verdade é que desde o último Sábado, para mim, a blogosfera ficou muito mais pequena. Sei que isto pode parecer um pouco pedante, visto continuar a haver milhares de blogs em Portugal, muitos deles de imensa qualidade. Mas a minha blogosfera ficou bem mais pequena, pela simples razão que o Dicionário era, por assim dizer, o "hub" das minhas navegações nela. O meu porto de partida. O primeiro blog que visitava todas as manhãs. E daqueles blogs que mais me influenciaram são já bem poucos os que ainda se encontram activos (um deles faz anos daqui a poucas semanas, não me posso esquecer). O que, bem vistas as coisas, não é tragédia nenhuma. A vida continua e blogs que visite todos os dias com prazer é coisa que não falta. Mas tal como nos últimos tempos do Flor de Obsessão (que saudades!), o Dicionário há muito que se arrastava sem chama. Desde Janeiro que as actualizações eram "prolixas mas esporádicas" (palavras do próprio Pedro Mexia). E assim sendo, o mais sensato era mesmo acabar. Alguns dos posts continuavam a ser verdadeiramente memoráveis, mas o simples facto de o Pedro não escrever em "tempo real" tirava muito do encanto inicial que o Dicionário tinha tido durante os primeiros meses. Pessoalmente, lia-o desde Junho do ano passado, praticamente desde que tinha surgido. E no decorrer aquelas tórridas semanas de Junho e Julho rapidamente se tornou o meu blog favorito. Não apenas porque partilhava com o autor muitos dos seus pontos de vista ideológicos – e isso ainda é o menos – mas, sobretudo, pelo registo, pelo Português impecavelmente escrito, pelo humor e pela permanente e saudável auto-ironia. E também, como o Pedro Lomba tão bem disse no Sábado, na Feira do Livro, pela "geografia" do blog: as ruas e os lugares de Lisboa que evocava, as livrarias, os cafés, as esplanadas, a noite. Os livros, os discos, os filmes. E a solidão. Vou ter saudades. JR

quarta-feira, junho 02, 2004

Uma campanha infeliz 

A troca recente de insultos entre partidários do PS e da coligação "Força Portugal" veio reforçar a mediocridade desta campanha eleitoral. Insultar o Professor Sousa Franco com base no seu aspecto físico foi muito sujo. Insultar o PP como partido xenófobo de extrema-direita foi muito sujo também.
Mas mesmo sem insultos, estou desiludido com todo o debate. Já esperava que a oposição tentasse fazer das eleições um referendo ao Governo, mas ao menos que o disfarçassem e incluissem algumas ideias que têm sobre o Futuro da União Europeia! Os confrontos entre candidatos terminam inevitavelmente na política interna, enquanto os Portugueses se vão mantendo na ignorância relativamente aos poderes e competências do Parlamento Europeu, à relação de forças entre esse parlamento e a Comissão Europeia, aos perigos do novo Tratado Constitucional, e à cooperação necessária entre todos os nossos eurodeputados, pois sem essa entreajuda Portugal só tem a perder. Apesar desta campanha desanimadora, no dia 13 eu vou votar. Espero que a abstenção não seja tão forte como se teme (ou como se deseja, conforme os interesses de cada partido...), e desejo que os Eurodeputados eleitos representem com dignidade o nosso digno país. RM

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