<$BlogRSDUrl$>

segunda-feira, dezembro 27, 2004

Era assim no tempo dos Antigos 

A maior Contadora de Estórias que eu conheci foi a minha tia Apolónia, que Deus tem. Na sua voz doce, no seu gesto claro, no seu olhar penetrante, na sua imaginação sem limites, estavam reunidos os ingredientes de uma noite perfeita, onde a única distracção era a própria convivência entre os familiares, amigos e vizinhos, que se juntavam na rua para apanhar o fresco, durante as longas noites de Verão.
Lembrei-me dela há uns dias, quando a sua filha (a prima Antónia, uma alegre jovem com mais de setenta primaveras) nos contou algumas estórias daqueles tempos duros, não tão distantes quanto possamos pensar. Ora ouçam esta:

«Chega-se um homem à casa do vizinho, e já era noite. Pergunta-lhe se pode ficar, e o vizinho manda-o entrar, dizendo-lhe que se chegue ao lume:
-Chegue-se ao lume, compadre, que um lume destes já é meia mantença!
A noite passa e comida, nada. Vão-se a deitar e na manhã seguinte a visita parte.
Uns dias depois dá-se o contrário: o hospedeiro passa a ser visita do outro. Entra na casa, e vê que na lareira estão ardendo dois grandes lumes; e diz:
-Ó compadre, mas o que é que vêm a ser estes dois lumes?
-Olhe vizinho, você na sua casa deu-me meia mantença, e eu cá na minha dou-lhe a mantença toda!»
RM

O meu Natal é todos os meses 

A minha família não é muito extensa, pelo que todas as quinzenas do ano estamos juntos. Além das magníficas refeições, partilham-se novidades, projectos pessoais, preocupações, alegrias e as inevitáveis histórias do tempo dos Antigos. É nestes dias que defendemos as tradições que marcam a nossa identidade: apanhar a azeitona, armazenar o cereal, lidar com o gado e fazer a matança do porco.
Este ano houve duas quase seguidas: a minha e a do meu primo, separadas por apenas uma semana. Trata-se de um autêntico regresso às origens, uma festa vivida intensamente por todos. E o facto de ter coincidido com a época natalícia tornou-a ainda mais especial.
A consoada foi passada à mesa, junto a uma enorme lareira, com o vento gélido assobiando no exterior. Novos e velhos, todos se sentiam bem naquele ambiente íntimo e profundamente familiar. Os copos brilhavam com a luz do fogo e as faces coravam com o fogo do vinho. A conversa estava animada, e por vezes ouviam-se gargalhadas sonoras. Olhei-os a todos, um por um. E sorri na certeza de que todos estaremos de novo juntos naquela mesa ou noutra, dentro de quinze dias.

Queridas leitoras e queridos leitores d´Os meninos de ouro: espero que tenham vivido esta época natalícia com grande felicidade, na companhia dos seres humanos que melhor sabem partilhar essa mesma felicidade convosco.
RM

segunda-feira, dezembro 06, 2004

Desilusão (III) 

Há um protagonismo excessivo de Angelina Jolie (enfim, um blockbuster é um blockbuster), enquanto que figuras tão importantes quanto Aristóteles ou Ptolomeu (Anthony Hopkins no seu melhor) são relegadas para segundo plano. Há demasiados diálogos ocupando o tempo que deveria ser dedicado à grandiosidade das paisagens, pois sem ela nenhum filme épico fica para a história. A banda sonora também deixa algo a desejar. Quem não se lembra do fabuloso percurso de Ben Hur através do deserto da Palestina, esfomeado, sedento, miserável, indefeso perante a crueldade da natureza e dos homens, acorrentado a um destino de escravo, e proibido de beber água na aldeia? E quando aquele carpinteiro decide dar-lhe água, aniquilando com o olhar toda a maldade do soldado? E quando Ben Hur ergue os olhos, agradecendo ao Filho de Deus por lhe ter salvo a vida? A música que envolvia essas cenas míticas ainda hoje me acalma e maravilha. Pois é com tais elementos grandiosos que se faz um filme para a História. Não há, em "Alexandre o Grande", uma única cena que chegue aos calcanhares daquelas que acabei de descrever. E por isso vou esperar pacientemente que um dia se realize um filme digno da grandeza de uma vida que merece ser conhecida e admirada por todos nós.
RM

Desilusão (II) 

O filme "Alexandre o Grande" é um épico que não consegue dar-nos a verdadeira dimensão da maior aventura da história helénica, aventura essa que poderia ter sido o início de um domínio grego de todo o médio oriente.
A batalha de Gaugamela está bem reconstituída, mas faltam outros momentos como a batalha de Isso, o duro cerco de Tiro e a chegada e permanência no Egipto (aliás o território do médio oriente onde melhor se expressaria a civilização grega clássica). RM

domingo, dezembro 05, 2004

Desilusão 

Esperava mais do programa "O eixo do mal" (Sic notícias, sábado, meia-noite). Não há aquela irreverência da "Noite da má língua", embora o "plantel" prometesse uma excelente hora de conversa. Clara Ferreira Alves parecia um pouco inibida pelo facto de estar a comentar o desaire do governo de Santana, e só perto do fim demonstrou grande convicção no elogio a Mário Soares. Daniel Oliveira teve a atitude barnabaica que eu já esperava: "Não o trato por Dr. Cavaco Silva, para mim é o Cavaco e pronto! O Cavaco! O Cavaco!" - nessa altura assustei-me, será que o homem ia ter um ataque cardíaco?
Pedro Mexia não conseguiu transportar para o programa a sua cultura nem a sua agilidade intelectual. Suponho que isso se deveu apenas ao tema em debate, e não a um surto de timidez.
Na próxima semana espero que o debate seja mais espirituoso e interessante. RM

This page is powered by Blogger. Isn't yours?