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sexta-feira, setembro 20, 2013

O estrangeirado e a década perdida 

A primeira vez que vi o Professor António Borges na televisão foi numa entrevista magnífica feita por Maria João Avillez na Sic-notícias. Eram os dias excitantes do pós-Guterrismo e era certo o regresso em breve do Centro-Direita ao poder.
Fiquei fascinado com a confiança que aquele homem sereno tinha nas qualidades do povo português. O seu otimismo surpreendeu-me e contagiou-me.
Dotado de um currículo profissional e académico notável, reitor inovador de uma das melhores escolas europeias, era um dos nossos estrangeirados mais bem sucedidos do fim do século XX.
Tive a certeza que Durão Barroso contaria com ele na pasta das finanças ou da economia, após a vitória nas eleições.
Quando conheci a composição do governo liderado por Barroso fiquei chocado com dois factos: a ausência de Borges e a notória falta de qualidade da "equipa". Não havia a sabedoria de um Cadilhe nem o reformismo corajoso de uma Beleza. Que contraste em relação às equipas competentes e determinadas dos dois primeiros governos de Cavaco Silva! O Professor Marcelo resumiu tudo numa frase: "Quem não tem cão caça com gato!". O problema é que só um governo com competência, coragem e honestidade excecionais poderia enfrentar o problema do défice, combater a corrupção, substituir a economia do betão pela economia dos produtos transaccionáveis e reformar o ensino superior (em 2002 já era óbvio para muitas famílias portuguesas que se aproximava uma catástrofe - o desemprego de licenciados em larga escala), apostando mais na criação de Colégios Universitários com o seu excelente sistema de Tutores de apoio ao estudo e pesquisa dos alunos (como há em Oxford, por exemplo) e financiando mais e melhor investigação científica e humanística.
Nessa altura olhei para Ferreira Leite como uma "Dama de Ferro" portuguesa. Posteriormente tive pena que essa mulher honesta perdesse as eleições em 2009. Mas hoje estou certo que se podia ter feito um trabalho muito melhor nas finanças. Quanto ao ministro da economia do governo de Barroso, nem me lembro do seu nome.
Durão Barroso convidou António Borges para a sua equipa, mas este recusou, alegando que necessitava de ter independência financeira antes de entrar para um governo. Assim se explica a sua ausência dos infelizes governos de 2002-2005. Esse foi o momento decisivo da carreira política do ex-reitor do INSEAD: ficou garantido que nunca ocuparia um lugar executivo à medida do seu enorme talento.
RM

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