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terça-feira, setembro 21, 2004

O Coração das Trevas 

Ao ler o livro de Conrad, um dos momentos mais impressionantes foi aquele em que o aventureiro Marlow descreveu o estuário do Tamisa, como ele era há dois mil anos atrás. Os jovens legionários romanos, chegados das mornas colinas mediterrânicas, onde se bebia o vinho e se dormiam as tranquilas sestas a meio da tarde, eram lançados nas entranhas de um mundo feroz, onde os seus amigos eram decapitados pelos "selvagens", onde os ventos gelados assassinavam as sentinelas da noite para o dia, onde uma selva obscura prometia todos os horrores, todas as monstruosidades. E essa promessa cumpriu-se.
Como venceram eles a selva, como destruíram os selvagens? Marlow não falou em tácticas militares, nem no armamento dos italianos, mas sim num elemento mais profundo, e em última instância o mais decisivo: no coração de cada militar havia um sonho, uma cobiça, uma ambição: a promoção que se aproximava, o saque das povoações, o prazer da conquista de terras vastas e desconhecidas. E foi essa cobiça desumana que permitiu a muitos sobreviver e ganhar a guerra, perdendo entretanto a dignidade da sua condição humana.

Soube hoje que a polícia suspeita que a mãe de uma menina que desapareceu recentemente na aldeia de Figueira (concelho de Portimão) é suspeita de ter colaborado no desaparecimento. Espero que tal não se venha a confirmar, e que a criança seja salva. Pois se isto vier a ser verdade, confirmará tristemente que a verdadeira e pura selvajaria não existe apenas em matos distantes, entre povos bárbaros; ela também existe entre nós, e provavelmente espera pacientemente, no coração de cada um, a oportunidade de dominar e destruir a nossa condição, tornando-nos em servos das mesmas Trevas que há muito julgávamos ter conseguido erradicar da nossa sociedade.
RM

sexta-feira, setembro 17, 2004

Um sorriso que nos sai caro 

A nova campanha publicitária da EDP, com pessoas sorridentes reconhecendo que as Energias De Portugal são de todos, é incompreensível para mim. O que se pretende com esta publicidade? Que se consuma mais, piorando o nosso défice energético? Que se escolha a EDP em detrimento da concorrência (mas qual concorrência??)? Seria mais útil um investimento em energias renováveis, sobretudo a solar, que deveria ser instalada nos lares, por forma a diminuir as contas de electricidade e as importações nacionais de carvão. Seria um contributo simples e eficaz, caso fosse multiplicado por três milhões de habitações. Claro que em nome das energias renováveis também se cometem imprudências: li na semana passada, na Revista do Expresso um artigo interessante sobre novos projectos de energias renováveis aproveitando a força do ar quente em chaminés de um quilómetro de altura, nos desertos Australianos. É uma obra deliciosamente dispendiosa e megalómana. Eu condeno-a ao fracasso, mas se resultar serei dos primeiros a festejar tal sucesso, pois fornecer energia a duzentas mil casas sem queimar um grama de combustível fóssil seria um contributo decisivo para inverter a preocupante degradação ambiental do nosso planeta. RM

quinta-feira, setembro 16, 2004

Os bufos 

Os portugueses que sentiram na pele a opressão do Estado Novo odiavam acima de tudo dois tipos execráveis de indivíduos: os pides e os bufos. Estes últimos possuíam um oportunismo reles e cobarde, pois por um lado não se comprometiam com o regime, mas por outro contribuíam para prejudicar gravemente todos os cidadãos insatisfeitos com a situação de Portugal. Hoje já não há pides, mas ainda temos bufos: eles polulam em certas ONGs e também em certos grupos parlamentares do Parlamento Europeu. Envergonham o país, insultam o bom nome de Portugal e procuram por todos os meios que o nosso país pague multas, sofra repreensões e seja colocado ao nível das mais repressivas ditaduras do planeta.
Vem isto a propósito do debate no Parlamento Europeu sobre a proibição da entrada do barco do aborto em águas portuguesas. Vasco Graça Moura declarou o debate "inútil", enquanto os nossos eurodeputados de esquerda procuravam enxovalhar o país.
Há que reconhecer que apenas nestes dias infelizes recebemos imagens de Estrasburgo. Não há um canal de televisão que mostre o que se debate naquela sala durante um dia inteiro, o que permitiria a cada um julgar de forma independente o conteúdo global dos discursos de cada Eurodeputado. Nos debates nacionais da Assembleia da República, como por exemplo o do Orçamento, gosto de assistir durante horas ao confronto de ideias, pois permite-me alguma independência intelectual no momento em que vejo os telejornais da noite: e é impressionante como se dá apenas destaque aos soundbytes, em detrimento das argumentações claras, demasiado longas para passarem nos "curtos" telejornais que duram "apenas" hora e meia, por vezes mais. Assim, talvez o melhor das ideias dos nossos eurodeputados de esquerda tenha sido cortado da reportagem, mas a agressividade que demonstram nas imagens seleccionadas revela sem dúvida uma total prioridade dada à ideologia partidária, em detrimento da honra nacional. RM

segunda-feira, setembro 13, 2004

Parabéns a você... 

nesta data querida
muitas Felicidades,
muitos anos de vida!
Hoje é dia de festa!
Cantam as nossas almas,
para OS MENINOS DE OURO
uma salva de palmas!!!!!!!!

Quando no Verão do ano passado o João me falou nos blogs, entusiasmei-me desde logo com a ideia. E ao fim de um ano de participação na blogosfera, posso concluir que este meio de comunicação mudou em parte a minha vida. Mais que escrever, foi a ler que investi a maior parte do tempo, e não o dou por perdido (e estou certo que nenhum de vós também não). Daqui por um ano cá estaremos todos. Assim o espero. Um grande abraço! RM

domingo, setembro 12, 2004

Regresso às origens 

Perto do aniversário do nosso blog, lembrei-me de visitar o arquivo de Setembro de 2003. Reconheço que não consegui cumprir todos os objectivos da altura. O principal era a divulgação da História (para mim a mais maravilhosa das ciências), sobretudo a de Portugal. O meu post de 19 de Setembro de 2003 representava o arranque desse objectivo. Deu trabalho e não houve reacções imediatas. Mas a médio prazo foi esse post que levou o nosso amigo Filipe (do blog Respublica) a conhecer-nos melhor, e o próprio blog Abrupto (de José Pacheco Pereira) fazia uma referência a esse post, na altura em que se debateram as guerras civis, sobretudo a da Secessão Americana.
Mas não resisti ao comentário dos temas e casos da actualidade: e embrenhei-me de tal forma nessa actividade, que chegava a esquecer-me do projecto inicial deste blog. Felizmente nunca se deixou de mencionar a Literatura, e muito mais se comentaria sobre livros caso todos os livros que pretendo ler estivessem à venda em Portugal, traduzidos ou não. Aliás, é confrangedor para mim verificar que os "tops" de vendas de livros têm em geral uma qualidade baixa.
O tempo tem sido escasso para cumprir em definitivo o regresso às origens. Quem acompanha de perto o nosso blog verificou que nunca terminei o post "Regresso a Dien Bien Phu", de Maio de 04. De facto já tenho o material de pesquisa pronto, mas não encontrei todas as imagens que pretendia. Este é o tipo de situações que vou tentar alterar a partir do fim deste mês.

A partida do João para França deixou um vazio temporário por estas bandas, mas será apenas temporário. O processo de renovação temática d`OS MENINOS DE OURO começará no fim de Setembro. Até lá, continuarei a viajar e a participar como sempre na blogosfera, este mundo fantástico onde as ideias voam tão depressa, sem censura nem critérios editoriais. RM

segunda-feira, setembro 06, 2004

Três séculos de Liberdade 

Parabéns a Emídio Guerreiro, um homem excepcional que dedicou grande parte da sua formidável vida no combate contra a opressão em Portugal e Espanha. A sua longevidade (faz hoje 105 anos) é ainda mais notável quando se observa a sua lucidez e não esquecendo o facto de ter estado preso em dois campos de concentração!
Hoje é um dia feliz para Emídio e para os muitos amigos que a ele se juntaram em Guimarães, na celebração de uma vida cheia; uma vida exemplar para todos os que tiveram o privilégio de nascer numa era de Liberdade. RM

PS: dia 13 Os Meninos de Ouro também vão estar de parabéns!...

sexta-feira, setembro 03, 2004

"A Rússia", afirmou o poeta Tyuchev, "não pode ser compreendida com a mente" (II) 

Tal como infelizmente se esperava, o infame sequestro de centenas de crianças numa escola em Beslan (Ossétia do Norte) terminou num banho de sangue - era o único cenário pretendido pelos terroristas.
O número de militares e civis russos mortos devido aos confrontos do Cáucaso desde 1994 é assustador, e nenhum outro povo europeu aguentaria uma guerra destas durante tanto tempo. Mas tenho que acrescentar que não é só a abnegação das famílias russas que tem permitido o prolongamento deste sofrimento atroz: as pessoas não sabem tudo o que se passa no Cáucaso, pois não é fácil a um jornalista entrar numa área de conflito onde apenas há uma regra de combate - primeiro abate-se o que se mexe, depois, com calma, fazem-se as perguntas. É uma guerra tão selvagem que quando vi um documentário com imagens da execução por degolamento de jovens soldados russos, e outro com um armazém russo onde se torturava Chechenos até à morte, verti lágrimas de terror, pois não concebo que a humanidade desça a tamanhos abismos. Mas ela desce.
A Rússia tem capacidade para manter tropas no Cáucaso, mas não consegue garantir a segurança dos seus civis. E isto porque não é um estado moderno e organizado, como os da UE. E o patriotismo não é suficiente para combater o terrorismo - são necessários meios tecnológicos, forças policiais treinadas e chefias incorruptíveis. A desorganização em torno da escola, hoje, demonstrou bem as fragilidades das suas forças de segurança.
Quantos russos vivem na Chechénia? Quantas vidas vale um pipeline de petróleo? Até quando se vai manter esta chaga, cuja finalidade ninguém conhece? Retirar após uma guerra longa é doloroso, e nós portugueses sabemos bem quais são as consequências. Mas sem essa retirada, como será possível obter a tranquilidade necessária ao desenvolvimento económico e social de acordo com o modelo Ocidental? Pesando os dois pratos na balança, creio que uma Rússia mais pequena, mas onde apenas vivam russos, seria um país com melhores condições para enriquecer, progredir, e voltar a exportar os prodígios de Cultura e Arte que só uma nação orgulhosa por viver em paz consegue fomentar. RM

quinta-feira, setembro 02, 2004

"A Rússia", afirmou o poeta Tyuchev, "não pode ser compreendida com a mente" 

E por isso mesmo não é fácil abordar de forma racional os conflitos militares no Cáucaso, tal como o ensaísta Antony Beevor explica na introdução do seu monumental livro "Estalinegrado". O principal problema que a Federação Russa enfrenta está resumido no seu nome: trata-se de uma federação de povos que não têm nenhuma língua nem religião em comum. O povo Russo sofreu na pele, ao longo dos séculos, o facto de ser a primeira linha de defesa europeia frente às invasões asiáticas. Nesse longo e duro processo iniciou uma expansão territorial, colocando hoje o país numa encruzilhada: dar independência a todos os que a exigem, criando inúmeros pequenos estados dominados por máfias, terroristas, fanáticos religiosos e oligarquias locais (como exemplo temos o Tadjiquistão, onde o ditador local inventou um feriado nacional que baptizou com o nome da sua mãe)? Ou manter uma opressão de cariz asiático sobre esses povos, afastando em definitivo a civilização Russa da civilização Ocidental? Para mim esta última é a questão fulcral, que aprofundarei em breve. RM

quarta-feira, setembro 01, 2004

Uma terra miserável 

A Irlanda do Norte é o território mais infeliz de toda a Europa Ocidental. Um povo que inclui muita gente fanática, violenta, pobre e cheia de ódio contra si própria, contra os ingleses, contra os irlandeses, contra o mundo. Não satisfeitos por se maltratarem uns aos outros, agora ameaçam os portugueses que para lá foram trabalhar honestamente. Estive em Belfast durante uma manhã de Agosto de 2002 e gostei da cidade, asseada e pacífica. Mas para quem vai lá trabalhar durante anos o panorama é menos animador, tendo a situação piorado cada vez mais: graffitis racistas nas paredes, insultos, ameaças...onde é que isto vai parar? A polícia já anunciou medidas, mas temo pelo pior, naquele que é um dos grandes arsenais clandestinos da Europa. RM

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