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domingo, outubro 24, 2004

A entrevista  

Quem viu a entrevista feita por Judite Sousa ao Ministro António Mexia na última quinta-feira à noite apenas pode concluir que estamos perante um dos mais competentes elementos deste Governo. As perguntas complexas, dirigidas aos assuntos mais difíceis, recebiam respostas claras, bem documentadas, e acima de tudo convictas. É deste tipo de homens que a política nacional precisa. Mas temo que na próxima década não teremos a sorte de ser governados com a qualidade dum governo semelhante ao do Professor Cavaco Silva, em 1985. E tendo em conta que o pouco que este governo faz de bem passa quase despercebido, suponho que se prepara uma era de domínio Socialista, que se iniciará com um prolongado estado de graça (dois anos, três anos?), e terminará sabe Deus como. RM

sexta-feira, outubro 15, 2004

Serviço público versus inutilidade pública 

Quando estiverem de férias, não deixem de dar uma vista de olhos pelo "Causas nossas", que dá na 2: de segunda a sexta, às 18 horas. O programa dá a oportunidade a profissionais de áreas diversas para explicarem, com calma, o que fazem e qual a importância do seu trabalho. Os temas variam bastante, desde "A defesa das raças autóctones" até "Portugal, a Europa e o Mar" (cito de memória).
Este programa é um consolo para mim, sobretudo depois de ter assistido ontem à noite ao cabaz de banalidades que foi o debate na RTP 1 sobre o debate parlamentar que decorrera no Parlamento, nessa tarde. Não se acrescentou nada, não foram feitas quaisquer propostas sobre o futuro do país, e saíu reforçado o desencanto (para ser politicamente correcto) que tenho perante a nossa Assembleia da República (AR). Os oradores são sempre os mesmos; então os deputados das últimas filas não têm capacidades de comunicação?? Defendo que a principal causa da decadência da AR não é o poder voraz dos media, mas sim o número excessivo de deputados, inversamente proporcional à sua qualidade. É confrangedor observar as prateleiras das bancadas superiores do PS, onde estão conservados em bóiões de formol geniais filhos da República (ou antes, desempregados da República!), tais como João Soares, Fernando Gomes, e outros peregrinos que fazem penosamente a sua travessia do deserto. Isto só desprestigia a nossa República. Se não há suficientes políticos de qualidade com nível para ocuparem os 230 lugares da AR, sugiro com seriedade que se reduza o número de lugares para 130. Seria um alívio para os cofres do Estado e seria dada possibilidade a todos para exprimir as suas convicções. Porque um político sem convicções parlamentares não merece estar na AR.
RM

A margem 

Fui passar uns dias à margem esquerda do Guadiana, um pedaço majestoso do Alentejo profundo.
As dimensões são esmagadoras para um indivíduo que decida fazer uma saudável corrida de uma hora num percurso de sete quilómetros, como eu tenho feito de duas em duas tardes. E a paisagem esmagou-me pois é impressionante a desertificação desta região, que há cinquenta anos atrás incluiu as maiores aldeias de Portugal, como por exemplo a Amareleja e Safara. Olho em redor, e num raio de milhas não encontro uma habitação, um curral, uma ruína. É muito bonito para quem vem relaxar da poluição atmosférica e sonora de Lisboa, dando passeios tranquilos por entre paisagens serenas. Mas para quem defende um futuro para o Alentejo que seja proporcional à forma especial de sentir e pensar das suas gentes, é preocupante assistir à hemorragia demográfica e ao envelhecimento geral (e também os jovens apresentam em muitos sítios um aspecto cansado e sem chama). Pois uma terra sem habitantes que a amem, sintam, conheçam, é uma terra sem alma. Uma terra condenada ao esquecimento. Não pode ser.
RM

terça-feira, outubro 05, 2004

O que farei quando tudo arde? 

Bem, uma boa opção é atirar a toalha para o chão e esperar que um líder mais competente e carismático comande o partido na direcção do futuro e de melhores resultados eleitorais. Só que há um senão: João Amaral faleceu, e é pouco provável que alguém com as suas qualidades venha a ocupar o posto de Carlos Carvalhas. Enquanto o PC caminha para o abismo eleitoral, o Bloco cresce e aparece cada vez mais. A casa vermelha está a arder, e a única coisa a fazer é assistir de fora e no dia seguinte varrer as cinzas para debaixo do grande tapete que hoje cobre todas as utopias do século XX.
RM

Ivy 

Example
Esta é a mais bela história de amor a que assisti desde que vi "O Paciente Inglês". Mas no filme "A vila" a minha identificação com as personagens é imensamente mais forte.
Parabéns aos actores, cujo trabalho soberbo os coloca ao nível de artistas, e não de meros funcionários da Fábrica dos Sonhos.
Estou certo que a jovem Bryce Dallas Howard e o dedicado Joachin Phoenix continuarão a representar de forma soberba durante muitos anos de uma carreira que lhes desejo excelente, pois confirmei que estes seres humanos nasceram para isto e têm trabalhado arduamente para merecerem o Dom especial com o qual nasceram.
RM

As minhas preces foram atendidas 

Vem aí o canal "RTP memória", onde finalmente vou poder assistir a programas lendários, tais como "Se bem me lembro", do Professor Vitorino Nemésio, ou "O Tempo e a Alma", onde o Professor José Hermano Saraiva começou a demonstrar a sua brilhante faceta de comunicador televisivo no serviço público. Estas pérolas de cultura estiveram durante décadas vedadas às gerações mais novas, que perdiam desta forma a oportunidade de enriquecerem os seus conhecimentos e as suas vidas. Eu sempre gostei de ver televisão, tenho-me tornado cada vez mais crítico em relação a inúmeros programas televisivos, mas reconheço que hoje em dia há uma oferta cultural excelente, desde que se tenha cabo: Canal História, Discovery, Arte, 2:, BBC prime...
Há,no entanto,um problema grave: é que nestas escolhas que todos podemos fazer, a maior parte dos portugueses prefere os conteúdos mais básicos em termos culturais, ou seja, conteúdos baseados em emoções fortes, misérias alheias, anedotas com barbas, voyeurismos diversos...sem darem por isso, as pessoas vão-se embrutecendo, deixando-se manipular por programas feitos com o objectivo de puxar pela lágrima fácil, pelo choro piedoso ou pela gargalhada soez. Desenvolve-se desta forma uma sociedade fraca, ignorante e sem quaisquer defesas perante um mundo globalizado onde os mais fortes (em todas as áreas, não apenas a cultural) tenderão a esmagar com o seu poder os mais fracos. E nós pertencemos a este segundo grupo.
A solução natural para este problema é, obviamente, uma solução cultural: com um povo melhor educado nas escolas e no seio das famílias, os fornecedores de conteúdos televisivos ver-se-iam forçados a elevar os seus padrões de qualidade. Esta solução "natural" é obviamente dificílima de ser levada a cabo, e teria que ser um projecto de algumas gerações. Mas quanto mais tempo o adiarmos, pior. Entretanto, as farpas do Eça mantêm-se tão actuais como na sua época, e como sou contra a censura, limito-me a pegar no comando e a mudar para aqueles canais que apenas uma minoria vê.
RM

sexta-feira, outubro 01, 2004

Se a minha vida fosse perfeita 

Example
O meu nome seria Lucius, viveria numa vila cercada por Trevas profundas e florestas obscuras (a selva obscura de Dante) e tudo o que teria vivido nos últimos três anos, todos os infernos que teria combatido, tudo se teria passado como no filme. E todos os momentos vividos seriam tão sublimes como a cena em que uma cadeira de baloiço oferece uma tranquilidade à paisagem nebulosa de mato e brumas. Perfeito. Antes de ver o filme, julguei que nunca encontraria a catárse adequada. Encontrei-a, e espero que também vocês descubram algo de belo nesta obra extraordinária.
"A vila". Um filme fabuloso. Absolutamente a não perder.
RM

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